Durante décadas, a imagem do jogador de videojogos foi muitas vezes a de uma figura solitária, imersa numa aventura épica para um jogador ou focada na competição feroz de um shooter online. No entanto, novos dados da Pesquisa Google em Portugal revelam que este estereótipo está a ficar cada vez mais obsoleto. Os jogadores portugueses estão a mudar a forma como jogam, e a tendência é clara: a colaboração está a superar a competição.
Numa reviravolta notável, as pesquisas por “jogos cooperativos” não só ultrapassaram em popularidade géneros tradicionalmente dominantes como os de ação e aventura, como também deixaram os jogos de tiros a uma distância considerável. Esta mudança não é apenas uma flutuação momentânea, mas sim o culminar de uma tendência de crescimento que indica uma alteração fundamental no que os portugueses procuram nas suas experiências de jogo.
Os números que contam uma nova história
A análise dos dados de pesquisa da Google é reveladora. O ponto de viragem começou em 2022, quando o interesse por experiências cooperativas ultrapassou pela primeira vez o dos jogos de tiros em Portugal. Desde então, a tendência só tem acelerado. Nos últimos 12 meses, as pesquisas por jogos para jogar em conjunto foram 90% superiores às pesquisas por jogos de tiros.
O dado mais impressionante, no entanto, surge quando olhamos para o panorama geral. Enquanto o interesse geral por videojogos em Portugal registou uma queda de 30% nos últimos cinco anos, as pesquisas específicas por jogos cooperativos seguiram o caminho inverso, com um crescimento explosivo de mais de 100% no mesmo período. Isto significa que os jogos cooperativos não são apenas populares; são o principal motor de crescimento e interesse num mercado que, de outra forma, estaria a encolher.

Porquê jogar juntos? As razões por trás da tendência
Esta ascensão meteórica da cooperação não é um acaso. Reflete uma mudança social mais ampla na forma como encaramos os videojogos, que passaram de um simples passatempo para uma das principais plataformas de socialização.
A pandemia de COVID-19, sem dúvida, acelerou este processo, solidificando os jogos online como um “terceiro lugar” – um espaço virtual onde amigos se podem encontrar, conversar e partilhar experiências. Ao contrário da natureza muitas vezes tensa e tóxica dos jogos puramente competitivos, os jogos cooperativos oferecem um ambiente de baixa pressão, focado no trabalho de equipa e na diversão partilhada.
Além disso, muitos dos jogos cooperativos mais populares são inerentemente mais acessíveis. Títulos como Stardew Valley ou Minecraft valorizam mais a criatividade, a estratégia e a colaboração do que os reflexos rápidos, o que os torna apelativos a um público muito mais vasto, que inclui jogadores casuais, casais e até famílias que procuram uma atividade para fazer em conjunto.
Minecraft no trono e os campeões da cooperação
A prova desta tendência está bem patente na lista dos jogos mais pesquisados em Portugal no último ano, que é liderada de forma destacada por Minecraft. Este é o exemplo perfeito do jogo cooperativo por excelência, um mundo infinito de blocos onde a construção e a sobrevivência em conjunto são o coração da experiência. A sua presença no topo, acima de gigantes competitivos como Fortnite ou Call of Duty, é o maior sintoma desta mudança.
Quando olhamos para os jogos que mais cresceram em pesquisas associadas ao termo “cooperativo”, vemos a diversidade deste movimento. A lista inclui desde jogos de sobrevivência e construção como Valheim (+270%) e Grounded (+130%), a shooters focados na cooperação como Remnant 2 (+260%), passando pelo relaxante simulador de quinta Stardew Valley (+170%) e por caóticos jogos de festa como PICO PARK (+120%) e Moving Out (+50%).
A mensagem é clara: o desejo de jogar em conjunto não está confinado a um único género. Os portugueses querem partilhar as suas aventuras, seja a construir um castelo, a derrotar um boss, a gerir uma quinta ou simplesmente a rir enquanto tentam, desajeitadamente, mover um sofá. Enquanto as grandes epopeias a solo e as arenas competitivas continuarão a ter o seu lugar, os dados mostram que, em Portugal, o coração do mundo dos videojogos, neste momento, bate em uníssono.
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