A The Walt Disney Company está a atravessar uma das semanas mais caóticas da sua história recente. Envolvida numa enorme controvérsia sobre liberdade de expressão que a colocou em rota de colisão com o público, celebridades e políticos de todas as fações, a empresa parecia estar a tentar acalmar as águas ao anunciar o regresso do seu apresentador Jimmy Kimmel. No entanto, no mesmo dia em que tentava apagar um fogo, decidiu pegar num lança-chamas e apontá-lo a si mesma.
Numa demonstração de uma aparente e total desconexão com a realidade, a Disney anunciou hoje um novo e significativo aumento de preços para o seu serviço de streaming Disney+, bem como para o Hulu e outros pacotes. A decisão, que já seria impopular em qualquer altura, torna-se um caso de estudo em mau timing, chegando no preciso momento em que a empresa enfrenta boicotes e uma crise de confiança sem precedentes.
O que vai mudar na tua fatura?
Antes de mergulharmos na controvérsia, vamos aos factos. A partir de 21 de outubro, os preços dos principais planos do Disney+ irão aumentar até 20%:
- O plano com anúncios sobe de 10$ para 12$ por mês.
- O plano sem anúncios sobe de 16$ para 19$ por mês.
- O plano anual sem anúncios sobe de 160$ para 190$.
Estes aumentos estendem-se também a outros serviços e pacotes detidos pela empresa, como o Hulu e o ESPN Select. Esta não é uma novidade isolada. Segue-se um padrão de aumentos anuais que têm ocorrido religiosamente em outubro desde 2023, pouco depois de a divisão de streaming da Disney ter, finalmente, atingido a rentabilidade em meados de 2024. O que torna este aumento diferente é o contexto explosivo em que foi anunciado.

A tempestade perfeita: como a Disney se meteu neste imbróglio
Para perceber a dimensão do desastre de relações públicas, é preciso recuar alguns dias. A 15 de setembro, o apresentador Jimmy Kimmel, uma das maiores estrelas da ABC (detida pela Disney), fez comentários controversos sobre o homicídio de uma figura da direita americana.
A reação foi imediata e severa. O presidente da FCC (a entidade reguladora das comunicações nos EUA) demonstrou a sua fúria, e as maiores parceiras de transmissão da ABC ameaçaram boicotar o programa. Sob pressão, a 17 de setembro, a Disney tomou uma decisão drástica: suspendeu o programa Jimmy Kimmel Live! por tempo indeterminado.
Se a empresa pensava que isto iria acalmar a situação, enganou-se redondamente. A decisão foi vista como um ato de censura e uma cedência à pressão política, o que desencadeou uma onda de fúria ainda maior, vinda de todos os lados:
- Centenas de pessoas protestaram em frente aos estúdios da Disney.
- As redes sociais foram inundadas com apelos ao cancelamento do Disney+, e dados de mercado sugerem que a perda de assinantes foi real e significativa.
- Centenas de celebridades, incluindo atores com longas carreiras na Disney, assinaram uma carta aberta a defender a liberdade de expressão.
- Políticos de ambos os partidos, Democratas e Republicanos, criticaram a situação, deixando a Disney completamente isolada.
A arte de escolher o pior momento possível
Perante este descalabro, a Disney tentou recuar. Na passada segunda-feira, anunciou que Jimmy Kimmel regressaria ao ar esta semana, tentando apaziguar os defensores da liberdade de expressão. No entanto, no mesmo dia em que tentava fazer as pazes, a empresa anunciou os aumentos de preços.
A decisão é incompreensível. Uma subida de preços é, por natureza, uma notícia negativa. Anunciá-la no exato momento em que os teus clientes, funcionários e parceiros estão furiosos contigo por outras razões é de uma falta de sensibilidade gritante. Sugere uma de duas coisas: ou uma arrogância corporativa que acredita que a controvérsia passará e os negócios continuarão como sempre, ou uma inércia burocrática tão grande que ninguém teve o bom senso de adiar um anúncio planeado.
Seja qual for a razão, a mensagem que a Disney passa aos seus clientes é clara: “Sabemos que estão zangados connosco, que sentem que traímos os vossos valores e que nos estão a boicotar. Agora, paguem-nos mais.”
Este aumento de preços, que a 21 de outubro se tornará real nas faturas de milhões de pessoas, servirá como um lembrete mensal desta semana caótica. A Disney está prestes a descobrir, da forma mais difícil, qual é o preço da lealdade dos seus clientes.
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