A inteligência artificial promete um futuro de eficiência e progresso sem precedentes, mas também alimenta uma ansiedade crescente sobre o futuro do trabalho. E se o próprio arquiteto desta revolução admitisse que essa ansiedade o impede de dormir à noite? Foi exatamente o que aconteceu. Sam Altman, o CEO da OpenAI e uma das caras mais conhecidas por trás do ChatGPT, revelou numa entrevista recente as suas profundas preocupações sobre o impacto da IA no mercado de trabalho, identificando as profissões que ele acredita estarem na linha da frente da disrupção.
As suas palavras não são um exercício de futurologia distante, mas sim um aviso vindo do epicentro da inovação. Para Altman, o debate deixou de ser sobre “se” a IA vai eliminar empregos, para passar a ser sobre “quais” e “com que rapidez”, e a sua resposta é, no mínimo, inquietante.
O peso da responsabilidade: “perco o sono com isto”
Numa conversa surpreendentemente cândida, Altman confessou que sente o enorme peso ético e moral de liderar uma empresa que está a desenvolver uma tecnologia com o poder de remodelar a sociedade. Ele admitiu que o que mais lhe tira o sono não são os cenários catastróficos de ficção científica, mas sim as consequências do dia a dia, o efeito cumulativo que as pequenas decisões tomadas na programação dos modelos de IA podem ter na vida de milhões de pessoas.
Esta preocupação reflete uma maturidade no debate: o perigo iminente da IA não é um robô vilão, mas sim uma ferramenta tão poderosa que pode acelerar a mudança social a um ritmo para o qual não estamos preparados. Altman citou estudos que mostram que, historicamente, cerca de 50% dos empregos mudam significativamente a cada 75 anos. A sua preocupação é que a IA comprima esse ciclo de décadas para apenas alguns anos, não dando tempo à força de trabalho para se adaptar e requalificar.

Quem está na linha de fogo? O atendimento ao cliente e a programação
Quando questionado sobre as áreas mais vulneráveis, Sam Altman foi direto e específico.
O fim do “call center” como o conhecemos?
A primeira profissão que Altman acredita estar em risco existencial é a de assistente de atendimento ao cliente. “Estou confiante de que muitos dos atuais trabalhos de apoio ao cliente, que acontecem por telefone ou computador, essas pessoas vão perder os seus empregos, e esse trabalho será mais bem feito por uma IA”, afirmou. Para Altman, a capacidade de uma IA estar disponível 24/7, de aceder instantaneamente a toda a informação de uma empresa e de comunicar em múltiplas línguas supera a eficiência humana. Esta não é uma previsão futura; é uma realidade em curso. O CEO da Salesforce, Marc Benioff, já demitiu 4.000 assistentes humanos, substituindo-os por sistemas de IA.
A ironia: os criadores a serem substituídos pela criação
A segunda área mencionada por Altman é talvez a mais surpreendente: programadores e engenheiros de software. Durante anos, estas foram vistas como as profissões do futuro, seguras contra a automação. No entanto, o CEO da OpenAI está preocupado com o seu futuro. A IA generativa já é capaz de escrever código, encontrar e corrigir bugs e até desenvolver aplicações simples. Isto sugere que muitas das tarefas de programação mais rotineiras e de nível de entrada podem ser automatizadas, mudando radicalmente o papel do programador humano, que poderá passar de “escritor de código” para “supervisor de IAs que escrevem código”.
A reviravolta: será que as empresas se estão a precipitar?
Apesar do cenário traçado por Altman, a transição pode não ser tão linear. Um estudo recente da consultora Gartner oferece um contraponto fascinante: prevê que, até 2027, metade das empresas que substituíram os seus assistentes de apoio ao cliente por IA terão revertido essa decisão. Porquê? Porque a eficiência da IA pode ter um custo. Os clientes podem rejeitar a falta de empatia, e a incapacidade de a IA lidar com problemas complexos ou inesperados pode levar a uma frustração que acaba por custar mais à empresa do que o salário de um assistente humano.
O fator humano: as profissões que a IA (ainda) não consegue tocar
No meio da incerteza, Altman aponta para uma luz de esperança, identificando as profissões que ele acredita serem mais resilientes: aquelas que exigem uma forte ligação humana. A enfermagem é o exemplo que ele dá. Funções que dependem de empatia, de cuidados físicos, de criatividade complexa e de interação humana genuína são, por agora, o bastião que a IA não consegue conquistar.
As palavras de Sam Altman servem como um lembrete sóbrio de que a ferramenta que ele ajudou a criar é imensamente poderosa e disruptiva. As suas noites em claro refletem uma questão que toda a sociedade precisa de enfrentar: como podemos abraçar os benefícios da inteligáªncia artificial sem deixar para trás aqueles cujo modo de vida ela ameaça transformar?
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