No mundo dos smartwatches, a autonomia da bateria é a barreira que a maioria das marcas parece incapaz de quebrar. A rotina de carregar o relógio todas as noites, tal como fazemos com o telemóvel, tornou-se a norma para os utilizadores de dispositivos da Apple e da Samsung. A Huawei, no entanto, acaba de chegar ao mercado com o seu novo Watch GT 6 e uma promessa que soa quase a provocação: até 21 dias de bateria. Mas como é que eles conseguem isto? Magia? Não, ciência.
Após o lançamento global do relógio, e antes da sua estreia na China a 24 de setembro, um dos principais executivos da Huawei veio a público explicar o “molho secreto” por trás desta proeza de engenharia. A resposta está numa nova e avançada tecnologia de bateria que deixa a concorrência a uma distância embaraçosa.
A tecnologia que deixa a concorrência para trás
He Gang, o CEO da unidade de negócio de consumo da Huawei, partilhou detalhes sobre a tecnologia que alimenta a série Watch GT 6. Segundo ele, o relógio está equipado com uma bateria de 867mAh, uma capacidade massiva para um smartwatch, que lhe permite desafiar qualquer concorrente em termos de resistência.
Nas suas próprias palavras, “não precisas de levar um carregador para viagens de negócios de curta duração”, um luxo impensável para os proprietários de muitos outros relógios inteligentes de topo. A empresa afirma que a sua nova tecnologia não oferece apenas o dobro ou o triplo da autonomia dos rivais, mas em alguns casos, até 12 vezes mais. A chave para este avanço tem um nome: silício.

O que é uma “bateria de alto teor de silício”?
Durante anos, a indústria de baterias de iões de lítio tem confiado no grafite como material principal para o ânodo (o polo negativo da bateria). O grafite é fiável, mas está a chegar ao seu limite teórico de quanta energia consegue armazenar. É aqui que entra o silício, visto por muitos como o “santo graal” da próxima geração de baterias.
A promessa e o desafio de domar o silício
A grande vantagem do silício é a sua densidade energética muito superior. Um único átomo de silício consegue reter uma quantidade muito maior de iões de lítio do que um átomo de carbono (o componente do grafite). Na teoria, isto significa que podes armazenar muito mais energia no mesmo espaço físico.
O problema, até agora, era que o silício tem um “defeito” fatal: ele incha e encolhe de forma dramática durante os ciclos de carga e descarga. Este movimento constante faz com que o material se rache e se degrade rapidamente, tornando a bateria inutilizável após poucos ciclos.
A inovação da Huawei, descrita como uma “bateria de alto teor de silício, laminada e de formato especial”, é precisamente a sua solução para este problema. Embora os detalhes exatos sejam um segredo industrial, a tecnologia envolve provavelmente a criação de um compósito ou de uma estrutura nano que consegue acomodar a expansão do silício sem o danificar. É um avanço significativo que permite à Huawei colher os benefícios do silício sem sofrer as suas desvantagens históricas.

Mais do que apenas mais dias: as vantagens secundárias
Esta nova química não traz apenas mais autonomia. A Huawei afirma que a tecnologia também permite um carregamento mais rápido e, crucialmente, não torna o relógio mais grosso ou pesado. Esta é talvez a parte mais impressionante: a empresa não está a fazer batota ao colocar uma bateria fisicamente maior e mais desajeitada no dispositivo; está a usar uma ciência de materiais mais inteligente para colocar mais energia no mesmo volume.
Uma filosofia diferente no mercado dos “wearables”
Esta aposta numa tecnologia de bateria de ponta revela uma filosofia fundamentalmente diferente da dos seus principais concorrentes. Enquanto a Apple e a Samsung parecem ter aceite uma autonomia de 1 a 2 dias como um compromisso necessário para alimentar sistemas operativos complexos e cheios de aplicações, a Huawei escolheu um caminho diferente.
A marca chinesa decidiu atacar o maior ponto de dor dos utilizadores de smartwatches primeiro. Ao construir o seu relógio sobre uma base de autonomia excecional, a Huawei cria uma experiência de utilização muito mais tranquila e fiável. A partir daí, adiciona um conjunto robusto de funcionalidades de saúde e desporto, como vimos com as novas capacidades para ciclismo e a medição de VFC.
No final, a escolha é do consumidor, mas a proposta da Huawei é cada vez mais forte. Num mundo onde estamos constantemente a gerir a bateria de dezenas de dispositivos, a liberdade de não ter de pensar em carregar o relógio durante semanas pode ser, para muitos, a funcionalidade mais “inteligente” de todas.
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