Quando pensas em áudio de alta-fidelidade (hi-fi), que nomes te vêm à cabeça? Talvez as colunas de luxo da britânica Bowers & Wilkins, ou os amplificadores lendários das japonesas Denon e Marantz. São marcas com décadas de história, sinónimo de qualidade de som intransigente para os audiófilos mais exigentes. Agora, todas elas têm um novo e surpreendente dono: a Samsung.
Numa jogada que solidifica o seu estatuto como um verdadeiro império do áudio, a gigante sul-coreana, através da sua subsidiária Harman, finalizou a aquisição da Sound United, a empresa que detinha estas e outras marcas icónicas. O negócio transforma a Samsung numa força dominante em todos os segmentos do mercado, desde os auscultadores acessíveis que usas no dia a dia até aos sistemas de som de milhares de euros que equipam as salas de audição dos maiores entusiastas.

O negócio: um império de áudio cada vez maior
A aquisição, no valor de 350 milhões de dólares, foi concluída esta semana, depois de ter sido anunciada em maio. A Harman, que já era por si só um colosso do áudio, comprou a Sound United à empresa de tecnologia médica Masimo.
Para entender a escala deste novo império, é preciso olhar para as peças do puzzle:
- A Samsung comprou a Harman em 2016 por 8 mil milhões de dólares.
- A Harman já detinha marcas universalmente populares como a JBL (líder em auscultadores e colunas portáteis), a AKG (famosa pelos seus auscultadores de estúdio) e a Harman Kardon (conhecida pelos seus sistemas de som para casa e automóveis).
- A Sound United, agora adquirida, adiciona a este portefólio um conjunto de marcas lendárias do mundo hi-fi, incluindo a Bowers & Wilkins, a Denon, a Marantz e a Polk Audio.
O resultado é um conglomerado com uma profundidade e uma diversidade de marcas sem paralelo na indústria do áudio.
O que vai mudar para estas marcas (e para ti)?
Se estás agora a imaginar um telemóvel Galaxy S26 com um altifalante afinado pela Bowers & Wilkins, podes tirar o cavalinho da chuva. A Harman foi muito clara quanto à sua estratégia: a Sound United irá operar como uma unidade de negócio independente dentro da sua divisão de lifestyle.
Esta abordagem é idêntica à que a própria Samsung aplicou quando comprou a Harman. A ideia é preservar a identidade, a cultura e a independência de cada marca. A Samsung e a Harman sabem que o valor de um nome como a Marantz ou a Denon reside precisamente na sua herança e na sua reputação de excelência, construída ao longo de décadas. Diluir essa identidade, colando um logótipo da Samsung ou da JBL nos seus produtos, seria destruir o próprio valor que acabaram de adquirir.
Para o consumidor, isto significa que, a curto prazo, nada irá mudar. As colunas da Bowers & Wilkins continuarão a ser desenhadas no Reino Unido, e os amplificadores da Denon continuarão a ter a sua assinatura sonora. A diferença estará nos bastidores: estas marcas terão agora acesso aos vastos recursos de investigação, desenvolvimento e distribuição global do império Harman/Samsung.
O paradoxo do áudio: “Hi-Fi” num mundo “Spotify”
Esta aquisição levanta uma questão interessante. Porque é que uma empresa como a Samsung, cujo negócio principal de áudio se baseia em vender milhões de auscultadores Bluetooth para ouvir música comprimida de serviços de streaming, está a investir tanto em marcas de nicho, focadas em audiófilos que procuram a pureza sónica absoluta?
A resposta está na diversificação e no prestígio. Por um lado, o mercado de áudio hi-fi é um nicho de alta margem de lucro. Por outro, ser dona destas marcas confere uma “aura” de credibilidade e excelência a todo o grupo. Mesmo que a tecnologia de um amplificador Marantz nunca chegue a uns auriculares JBL, a associação existe.
É também uma admissão implícita de uma realidade do mercado atual: a conveniência já venceu a batalha contra a alta-fidelidade. A maioria das pessoas está perfeitamente feliz a ouvir música via Bluetooth, e a busca pela qualidade de som perfeita num telemóvel tornou-se, para muitos, “quase inútil”. Ao comprar a Sound United, a Samsung não está a tentar forçar o hi-fi no mercado de massas; está simplesmente a garantir que, seja qual for a tua preferência – conveniência ou qualidade pura – o dinheiro, muito provavelmente, acabará no mesmo bolso.
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