Quanto estarias disposto a pagar por uma experiência de internet radicalmente melhor? Uma que te desse respostas diretas em vez de uma lista de links, que resumisse artigos longos por ti e que te protegesse do “lixo” de baixa qualidade que cada vez mais inunda os resultados de pesquisa? A Perplexity, uma das mais promissoras startups de inteligência artificial, acreditava que essa experiência valia 200 dólares por mês. Esse era o preço da subscrição que dava acesso ao seu navegador de IA exclusivo, o Comet.
Agora, numa reviravolta estratégica surpreendente, a empresa anunciou que o Comet é, a partir de hoje, totalmente gratuito para todos. E, para dissipar quaisquer dúvidas de que se trata de uma promoção temporária, o CEO da Perplexity, Aravind Srinivas, foi claro: o navegador “será sempre gratuito”.

O que é o Comet e o que o torna tão especial?
O Comet não é um navegador de internet como o Chrome ou o Safari. É o que muitos na indústria chamam de um “motor de respostas”. A sua principal diferença reside na forma como lida com as tuas perguntas.
Quando fazes uma pesquisa na Google, recebes uma lista de dez links azuis que tens de abrir, ler e interpretar para encontrar a tua resposta. O Comet, alimentado pela IA da Perplexity, faz esse trabalho por ti. Ele lê as fontes mais relevantes na internet e, em vez de uma lista de links, apresenta-te uma resposta direta, concisa e escrita em linguagem natural, completa com as citações das fontes que utilizou.
Para além de ser um motor de busca de nova geração, o Comet funciona como um assistente integrado na tua experiência de navegação. Pode resumir um vídeo do YouTube ou um artigo longo com um único clique, ou até mesmo redigir e enviar e-mails a teu pedido.
De 200€ por mês a gratuito para sempre: a razão por trás da mudança
A decisão de transformar um produto de luxo, ultra-exclusivo, numa ferramenta gratuita para as massas é drástica e revela a enorme ambição da Perplexity. Segundo o seu CEO, a razão é dupla.
A missão de “limpar” uma internet cada vez mais suja
A primeira justificação é quase filosófica. Aravind Srinivas acredita que a internet está a enfrentar um problema de qualidade crescente, paradoxalmente, por causa da própria IA. “Penso que será muito mais fácil criar ‘lixo’ e ficará mais difícil distinguir se algo foi feito por uma IA ou por um humano”, afirmou.
Neste novo e caótico ecossistema de informação, a Perplexity quer posicionar o Comet como um farol de confiança. Uma ferramenta que usa a “boa” IA para filtrar a “má” IA, cortando o ruído do marketing de afiliados, do SEO agressivo e do conteúdo de baixa qualidade para te entregar apenas a informação que realmente importa. Para que esta missão tenha impacto, argumenta o CEO, ela “tem de ser acessível para todos”.
A aposta no crescimento em massa
A segunda razão é estratégica. Um produto de 200€ por mês cria um nicho de mercado lucrativo, mas pequeno. Ao torná-lo gratuito, a Perplexity está a sacrificar a receita a curto prazo em troca de uma aposta muito maior: a adoção em massa. O objetivo já não é ter alguns milhares de subscritores pagantes, mas sim conquistar milhões de utilizadores do dia a dia, retirando-os diretamente à Google. A estratégia a longo prazo passará, provavelmente, por encontrar outras formas de monetização, mas, por agora, a prioridade absoluta é o crescimento.
Uma ameaça real ao domínio da Google?
Esta jogada coloca a Perplexity como um dos desafiantes mais sérios ao monopólio da Google na pesquisa online. Enquanto a Google está a tentar, de forma algo desajeitada, integrar a sua própria IA nos resultados de pesquisa, a Perplexity foi construída de raiz em torno do conceito de “resposta direta”.
Ao remover a barreira do preço do seu produto mais polido, o navegador Comet, a Perplexity está a fazer um convite aberto e irrecusável a todos os que se sentem frustrados com o estado atual da Pesquisa Google. É uma aposta de alto risco, mas que tem o potencial de agitar um mercado que tem estado estagnado há mais de uma década. A batalha pelo futuro da pesquisa na internet acabou de ficar muito mais interessante.
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