Lembras-te da polémica de 2020, quando a Apple anunciou que iria remover o carregador da caixa do iPhone? A justificação foi ambiental, mas a decisão gerou uma onda de críticas, antes de, inevitavelmente, se tornar a norma em toda a indústria. Agora, a Sony decidiu dar o próximo passo lógico – e igualmente controverso – nesta tendência de esvaziar a caixa dos smartphones.
A empresa anunciou que, a começar com o seu novo topo de gama, o (ficcional) Xperia 10 VII, não só não virá o carregador, como também não virá o cabo USB-C. Ao comprares o teu novo smartphone de 1.500 euros, irás receber, literalmente, apenas o smartphone.
A justificação da Sony: um passo em direção a um “planeta mais verde”
A lógica apresentada pela Sony para esta decisão é, oficialmente, puramente ambiental. A medida faz parte do seu plano “Road to Zero”, que visa atingir uma pegada ambiental nula até 2050. Segundo a empresa, a remoção do cabo da embalagem irá:
- Reduzir o lixo eletrónico, uma vez que a maioria dos utilizadores já tem vários cabos USB-C em casa.
- Diminuir o tamanho das embalagens, o que, por sua vez, reduz as emissões de carbono associadas ao transporte e à produção.
A Sony argumenta que continuar a incluir um acessório que a maioria das pessoas já possui é um desperdício de recursos. No papel, a lógica parece fazer sentido. No entanto, na prática, a realidade é um pouco mais complexa e a decisão está longe de ser consensual.

A perspetiva do consumidor: pagar mais por menos
A reação a esta notícia, que já se espalha por fóruns de tecnologia e redes sociais, tem sido, na melhor das hipóteses, mista, com a maioria a pender para a frustração. E as razões são várias.
O problema do preço
O argumento mais forte contra esta medida é o preço dos dispositivos. Os smartphones topo de gama nunca foram tão caros. Para muitos consumidores, a ideia de pagar 1.500 euros por um smartphone e não receber sequer um cabo para o carregar ou para o ligar a um computador é, no mínimo, insultuosa. A questão que muitos colocam é: se a remoção dos acessórios representa uma poupança de custos para a Sony (em componentes, embalagem e logística), porque é que essa poupança não se reflete numa redução do preço final do produto?
Nem todos os cabos USB-C são iguais
A justificação de que “toda a gente já tem um cabo USB-C” esconde um problema técnico importante: a qualidade e as capacidades dos cabos USB-C variam drasticamente. Um cabo USB-C barato, que veio com uns auscultadores ou outro acessório qualquer, pode não ser capaz de suportar as velocidades de carregamento rápido do teu novo smartphone de topo de gama, ou pode ter velocidades de transferência de dados extremamente lentas.
Para tirares o máximo partido do teu novo dispositivo, poderás ter de comprar, à parte, um cabo de alta qualidade que suporte as especificações corretas. Isto não só anula a poupança, como também vai contra o argumento ambiental, pois estás a ser forçado a comprar um novo acessório que virá na sua própria embalagem de plástico.
Um futuro sem fios… e sem acessórios na caixa
Esta decisão da Sony é mais um sinal da direção para a qual a indústria se está a mover. Os fabricantes estão a apostar cada vez mais num futuro sem fios, onde o carregamento é feito por indução e a transferência de dados acontece via Wi-Fi ou Bluetooth. A remoção gradual dos acessórios da caixa é uma forma de “empurrar” os consumidores, de forma mais ou menos subtil, para a adoção destas tecnologias.
A grande questão que paira no ar é se esta é uma iniciativa genuinamente “verde” ou um caso de “greenwashing” – uma medida de corte de custos disfarçada de responsabilidade ambiental.
Se a história nos ensinou alguma coisa, é que, apesar da controvérsia inicial, é muito provável que outras marcas sigam o exemplo da Sony nos próximos anos. Prepara-te para um futuro em que a caixa do teu novo smartphone trará apenas isso mesmo: o smartphone.
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