A Amnistia Internacional (AI), uma das mais respeitadas organizações de direitos humanos do mundo, acaba de lançar um ataque frontal a uma das plataformas de redes sociais mais populares do planeta: o TikTok. Num novo e contundente relatório, intitulado “Presos na Toca do Coelho”, a organização acusa a empresa de explorar deliberadamente as inseguranças dos adolescentes para obter lucro, criando um ambiente digital que pode ser perigoso para a sua saúde mental.
O relatório não se fica por meias palavras, descrevendo a experiência de muitos jovens na plataforma como uma autêntica “prisão mental”. A AI exige agora uma ação “urgente” por parte dos governos e da União Europeia para forçar o TikTok a tornar-se um espaço mais seguro, começando por uma modificação profunda do seu algoritmo viciante e potencialmente nocivo.
O que diz o relatório “Presos na Toca do Coelho”?
O cerne da acusação da Amnistia Internacional reside no funcionamento do próprio algoritmo do TikTok, o motor secreto que decide que vídeos vês a seguir no teu feed infinito. Segundo a AI, este algoritmo não está otimizado para o teu bem-estar, mas sim para uma única coisa: manter-te na aplicação o máximo de tempo possível, de forma a mostrar-te mais anúncios e, consequentemente, gerar mais lucro para a empresa.
A “toca do coelho” da negatividade
O problema, argumenta a organização, é que este ciclo vicioso de procura por atenção pode ter consequências devastadoras, especialmente para os cérebros ainda em desenvolvimento dos adolescentes. Se um jovem demonstra interesse, mesmo que momentâneo, em conteúdos relacionados com tristeza, ansiedade, imagem corporal negativa ou outros temas sensíveis, o algoritmo pode interpretar isso como um sinal de “envolvimento” e começar a mostrar-lhe cada vez mais vídeos sobre esses mesmos temas.
É a isto que o relatório chama a “toca do coelho”: um funil de conteúdo que pode rapidamente prender um utilizador num ciclo de negatividade, reforçando as suas inseguranças e, no pior dos cenários, expondo-o a conteúdos que incitam à automutilação ou ao suicídio. A AI acusa o TikTok de estar, na prática, a “ganhar dinheiro com as inseguranças” dos seus utilizadores mais vulneráveis.

A voz da tragédia: o testemunho de uma mãe
Para dar um rosto humano a estas acusações, o relatório inclui o testemunho de Stéphanie Mistre, uma mãe francesa cuja filha de 15 anos se suicidou em 2021, após, segundo ela, ter ficado viciada no TikTok. As suas palavras são um murro no estômago e resumem a acusação central do documento:
“O TikTok cria uma prisão mental para os nossos jovens, manipulando os seus cérebros, porque o seu objetivo é ganhar dinheiro e explorar as inseguranças dos jovens para obter o máximo lucro”, afirma Stéphanie. A sua história serve como um alerta trágico para os potenciais perigos que se escondem por trás dos vídeos virais e das danças aparentemente inofensivas.
O apelo à ação: “medidas urgentes” para proteger os jovens
Perante este cenário, a Amnistia Internacional não se limita a denunciar; exige ação. O relatório é um apelo direto ao governo francês e à Comissão Europeia para que intervenham e implementem “medidas urgentes para finalmente tornar o TikTok numa plataforma segura”.
A principal exigência é a modificação do algoritmo. Embora os detalhes técnicos não sejam especificados, a AI defende que o algoritmo deve ser redesenhado para deixar de priorizar o tempo de ecrã a todo o custo e para incluir salvaguardas que impeçam a amplificação de conteúdos potencialmente nocivos.
Um debate que já fervilhava em França
A publicação deste relatório surge num momento particularmente sensível em França. Há apenas um mês, uma comissão de inquérito da Assembleia Nacional francesa chocou o país ao recomendar medidas drásticas para proteger os menores dos perigos das redes sociais, incluindo a proibição total do acesso a menores de 15 anos e a imposição de um “recolher obrigatório digital” para jovens entre os 15 e os 18 anos.
O relatório da Amnistia Internacional vem, portanto, adicionar mais combustível a um debate já incandescente sobre a responsabilidade das plataformas digitais e a necessidade de uma regulamentação mais apertada para proteger a saúde mental da próxima geração. A pressão sobre o TikTok, e sobre toda a indústria das redes sociais, está a aumentar de forma exponencial.
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