A DeepSeek, a empresa chinesa de inteligência artificial que chocou o mundo no início de 2025 ao oferecer um modelo de IA extremamente barato, está novamente no centro da polémica. Desta vez, não é pelo preço, mas pela origem do seu poder computacional. Um relatório explosivo do The Information alega que a empresa está a utilizar milhares de chips avançados da Nvidia, obtidos através de uma rede de contrabando, para treinar a sua próxima geração de modelos de IA, contornando as sanções dos Estados Unidos.
A acusação sugere que a DeepSeek, apesar de afirmar publicamente que usa hardware menos potente ou nacional, está na verdade a alimentar os seus servidores com a tecnologia proibida mais cobiçada do planeta: a arquitetura Blackwell da Nvidia.
O esquema dos “Data Centers Fantasma”
Segundo o relatório, o esquema de contrabando é complexo e envolve múltiplas etapas para disfarçar a origem e o destino dos chips.
- A Compra: “Data centers fantasma” localizados no Sudeste Asiático, que têm permissão legal para comprar hardware da Nvidia, encomendam os chips B200 e B100 (baseados na arquitetura Blackwell).
- O Desmantelamento: Uma vez recebidos, os servidores são desmantelados.
- O Contrabando: Os componentes valiosos (os GPUs) são enviados para a China disfarçados de outros itens menos suspeitos.
Estima-se que a DeepSeek tenha conseguido obter entre 2.000 a 2.300 GPUs desta forma. Embora seja um número pequeno comparado com os clusters de 100.000 chips das gigantes americanas, é poder de fogo suficiente para treinar modelos muito avançados se usado de forma eficiente.

Nvidia nega, mas DOJ aperta o cerco
A Nvidia reagiu às alegações classificando o cenário de contrabando em massa como “inverosímil” (far-fetched). No entanto, a realidade contradiz o ceticismo da empresa. O Departamento de Justiça dos EUA (DOJ) desmantelou recentemente uma operação que contrabandeou mais de 160 milhões de dólares em GPUs H100 e H200 para a China, provando que as rotas ilegais existem e são ativas.
Curiosamente, após estes relatórios, a Nvidia implementou uma “trela digital” para verificar a localização física dos seus chips, o que sugere que a empresa leva as ameaças de desvio muito mais a sério do que admite publicamente.
A defesa da DeepSeek e o papel da Huawei
A DeepSeek nega o uso de chips Blackwell, afirmando que o seu treino é feito com chips Nvidia H800 (uma versão mais antiga e permitida) e com os chips nacionais Huawei Ascend 910C.
Esta defesa toca no ponto nevrálgico da guerra tecnológica: a China quer desesperadamente que as suas empresas usem tecnologia local (como os chips da Huawei, fabricados pela SMIC em processos de 7nm), mas a superioridade técnica dos chips da Nvidia (fabricados em 4nm pela TSMC) torna-os irresistíveis para quem quer liderar a corrida da IA.
Recentemente, o Presidente Trump autorizou a venda controlada de chips H200 para a China (com uma taxa de 25%), numa tentativa de capturar receita para os EUA, mas Pequim parece estar a limitar o acesso a estes chips para forçar a adoção das soluções da Huawei. No meio deste jogo de xadrez, o contrabando continua a ser a via rápida para a tecnologia de ponta.
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