A Google parece determinada em injetar inteligência artificial em todos os cantos do seu ecossistema, mesmo onde ninguém pediu. O mais recente “laboratório” da empresa é o Google Discover, o feed de notícias personalizado que vive no telemóvel de milhões de pessoas. E os resultados de uma nova experiência estão a gerar polémica: a Google está a usar IA para reescrever os títulos das notícias, e o sistema está a criar manchetes que são enganosas ou simplesmente erradas.
O site The Verge detetou vários casos em que os artigos exibidos no Discover apresentavam títulos diferentes dos originais, gerados automaticamente pela Google. O problema? A IA, na sua tentativa de resumir ou tornar o título mais “clicável”, acabou por distorcer a verdade.
Quando a IA inventa factos: o caso da “Steam Machine”
O exemplo mais flagrante envolveu um artigo do site Ars Technica. O título original, cuidadoso e preciso, era: “A Steam Machine da Valve parece uma consola, mas não espere que tenha o preço de uma”.
A versão reescrita pela IA da Google, apresentada aos utilizadores no Discover, dizia simplesmente: “Preço da Steam Machine revelado”.
Esta alteração não é apenas uma questão de estilo; é desinformação pura. O artigo original dizia explicitamente que não havia preços anunciados. Ao alterar o título, a IA da Google prometeu uma informação que o texto não continha, enganando o leitor e, ironicamente, fazendo o site parecer mentiroso ou “clickbait”.
Em outros casos, o Discover manteve os títulos originais mas adicionou resumos gerados por IA. Embora estes venham acompanhados de um aviso (“Gerado com IA, pode conter erros”), a questão que se coloca é: para quê usar IA se ela introduz erros onde eles não existiam?

“Pequena experiência”, grande problema
Confrontada com estes erros, a representante da Google, Mallory Deleon, descreveu a situação como uma “pequena experiência de interface para um subconjunto de utilizadores”. O objetivo seria “tornar os detalhes do tópico mais fáceis de digerir”.
No entanto, para os meios de comunicação social (publishers), isto soa a alarme. A relação entre a Google e os criadores de conteúdo online já é tensa. A Google atua frequentemente como o porteiro entre os sites e os leitores, e tem um historial de conflitos sobre compensação e exibição de conteúdo.
Ao reescrever títulos sem permissão, a Google está, na prática, a assumir o controlo editorial sobre o trabalho de terceiros, correndo o risco de deturpar a mensagem e a credibilidade dos sites que alimentam o seu próprio serviço.
Mais IA na pesquisa, quer queiras quer não
Para quem gosta desta invasão de IA, as novidades não param. O controverso “Modo IA” (AI Mode), o chatbot de pesquisa que a News Media Alliance já classificou como “roubo” de conteúdo, vai ficar ainda mais integrado.
Robby Stein, Vice-Presidente de Produto da Google Search, revelou na rede social X que a empresa está a testar a integração do Modo IA no mesmo ecrã dos “Resumos de IA” (AI Overviews), eliminando a separação em abas. A estratégia é clara: fundir a pesquisa tradicional com a resposta gerada por IA, tornando cada vez mais difícil distinguir onde acaba a Google e onde começa a web aberta.
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