Numa indústria habituada a vender cada nova funcionalidade como uma revolução, a Honor acaba de protagonizar um momento de rara honestidade. Guo Tongxue, gestora de produto da marca, veio a público afirmar que, apesar do marketing da concorrência, nenhum smartwatch atualmente no mercado é capaz de detetar com precisão a temperatura corporal humana.
A declaração surgiu numa interação nas redes sociais sobre o desenvolvimento do próximo relógio da Honor. Quando sugeriram a inclusão de um sensor de temperatura, a executiva não hesitou em refrear as expectativas, explicando as barreiras técnicas que impedem que o teu relógio saiba, de facto, se tens febre.

O problema da pele vs. o núcleo: porque é que a leitura falha?
Segundo a Honor, o problema não é a falta de sensores, mas sim a física e a biologia. Os smartwatches medem a temperatura da pele no pulso, que é uma extremidade do corpo. O desafio titânico é converter essa leitura na temperatura central do corpo (aquela que o termómetro debaixo do braço ou na boca mede).
Guo Tongxue aponta dois obstáculos principais que a tecnologia atual ainda não resolveu:
- A conversão algorítmica: Tentar adivinhar a temperatura interna baseada na temperatura da pele é extremamente complexo, especialmente durante uma febre. A executiva afirma que é atualmente “impossível controlar a leitura com uma margem de erro de ±0.5°C”. Num contexto médico, meio grau de diferença é o que separa estar saudável de ter febre.
- Fatores externos: A precisão é facilmente arruinada por fatores ambientais. Se estiver frio na rua, se a bracelete estiver ligeiramente larga ou se estiveres a fazer exercício, a temperatura da pele no pulso altera-se drasticamente, tornando os dados pouco fiáveis para fins médicos.
Para que servem, afinal, os sensores atuais?
A Honor não diz que os sensores são inúteis, apenas que não servem para o que a maioria das pessoas pensa (detetar febre). A marca reconhece que a tecnologia atual é “perfeita para a monitorização do ciclo menstrual“.
Neste caso, o que importa não é a temperatura exata (se é 36.5°C ou 36.8°C), mas sim a tendência e a variação relativa ao longo do mês, que ajuda a identificar a ovulação. É por isso que marcas como a Apple e a Samsung focam o seu marketing da temperatura na saúde feminina e não no diagnóstico de doenças.
Um ataque subtil à Huawei e à concorrência?
Esta postura da Honor é particularmente interessante porque a coloca em contradição direta com a sua antiga empresa-mãe, a Huawei, e com outros gigantes.
A Huawei, com a sua linha Watch GT e o modelo médico Watch D2, promove ativamente a medição de temperatura. A Apple e a Samsung também incluem estes sensores nos seus topos de gama. Ao afirmar que “nenhum wearable na indústria” consegue resultados precisos, a Honor está, efetivamente, a dizer que os dados apresentados pelos seus rivais devem ser vistos com muito ceticismo.
A Honor acredita que este desafio será resolvido no futuro próximo com novas tecnologias, mas, por agora, prefere não incluir uma funcionalidade que considera imprecisa.
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