A Ucrânia iniciou o desenvolvimento de um Grande Modelo de Linguagem (LLM) nacional (IA soberana), utilizando a estrutura de “pesos abertos” Gemma, da Google. A iniciativa, avançada pela agência Reuters, visa garantir a independência tecnológica do país nos setores militar e civil.

O projeto resulta de uma parceria entre o Ministério da Transformação Digital ucraniano e a operadora móvel Kyivstar. Segundo informou a Reuters esta segunda-feira, o objetivo central é criar um sistema que reduza a dependência de fornecedores externos num contexto de guerra.
Numa fase inicial, o treino do modelo utilizará a infraestrutura de computação da Google, mas o plano prevê a migração total para servidores locais. Esta medida visa assegurar que o Estado mantém o controlo exclusivo sobre os sistemas de inteligência artificial que servirão cerca de 23 milhões de cidadãos.
Independência estratégica e uso militar
A decisão de construir um modelo proprietário – IA soberana – responde a imperativos de segurança e economia. Em declarações citadas pela Reuters em setembro, Oleksandr Bornyakov, Vice-Ministro da Transformação Digital, explicou que o país pretende evitar os custos elevados e os riscos de segurança associados a sistemas estrangeiros fechados, como o ChatGPT da OpenAI.
A vertente militar é prioritária. As autoridades ucranianas tencionam integrar esta IA em sistemas de gestão do campo de batalha, nomeadamente para a coordenação de tropas e monitorização de movimentos inimigos.
Bornyakov confirmou ainda à agência noticiosa a rejeição de modelos chineses, como o DeepSeek e o Qwen. Atualmente, a Ucrânia já recorre a ferramentas da norte-americana Palantir para análise de ataques, mas o novo LLM visa internalizar estas capacidades.
O desafio linguístico e cultural
O projeto nasce também da necessidade de colmatar falhas nos modelos globais atuais. Misha Nestor, diretor de produto da Kyivstar, referiu à Reuters que os sistemas existentes lutam para processar dialetos locais e misturas linguísticas específicas de certas regiões da Ucrânia, o que resulta em erros de tradução e “alucinações” em documentos legais.
Para garantir a precisão, foram estabelecidos quatro comités consultivos com autoridade sobre os aspetos técnicos e linguísticos, assegurando o suporte correto ao ucraniano, russo e idiomas minoritários como o tártaro da Crimeia.
Escolha da Google e alternativas
A seleção da estrutura Gemma ocorreu após uma avaliação extensa. Fontes familiares com o processo revelaram à Reuters que modelos como o Llama (Meta) e o Mistral (França) também foram considerados.
A escolha final recaiu sobre a Google, reforçando os laços tecnológicos entre a Ucrânia e os Estados Unidos, uma relação aprofundada pela recente entrada da Kyivstar na bolsa Nasdaq, em agosto de 2025.
Fonte da notícia: Reuters
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