Imagina o cenário: acabaste de comprar o novíssimo e dispendioso Google Pixel 10 Pro XL, elogiado pelas suas câmaras fantásticas. No teu primeiro evento de família, gravas um vídeo do “Parabéns a Você”, mas quando o vais mostrar, o som está abafado, distante e de péssima qualidade. A câmara é perfeita, mas o áudio está arruinado. A culpa é de um defeito no telemóvel? Não exatamente. A culpa, segundo a Google, é da forma como o seguras.
Está a circular na internet uma crescente onda de queixas de novos proprietários do Pixel 10 Pro XL sobre a má qualidade do áudio em vídeos gravados na horizontal. A causa já foi descoberta, e não se trata de um problema de software, mas sim de uma decisão de design deliberada que, ao tentar resolver um problema antigo, acabou por criar um novo e talvez ainda mais irritante, especialmente para os 90% da população que são dextros.
Uma troca de lugares com consequências inesperadas
Para entender o problema, temos de olhar para a base do telemóvel. No modelo do ano passado, o Pixel 9 Pro XL, o altifalante principal estava à esquerda da porta USB-C e o microfone à direita. Este ano, no Pixel 10 Pro XL, a Google inverteu as posições: o altifalante passou para a direita e o microfone para a esquerda.
A intenção era boa…
A lógica por trás desta mudança é, na verdade, bastante inteligente. Ao segurar o telemóvel na horizontal para jogar ou ver um vídeo, a maioria dos utilizadores dextros apoia a palma da mão direita na parte inferior do dispositivo. Com o design antigo, a mão abafava frequentemente o altifalante, prejudicando a experiência de áudio. Ao mover o altifalante para a direita, a Google resolveu este problema de forma eficaz. Uma vitória para o consumo de multimédia.
…mas a execução foi desastrosa para os vídeos
O problema é que a equipa de design parece ter-se esquecido de como as pessoas seguram o telemóvel para gravar vídeo. Nesse cenário, a posição da mão é a mesma. A palma ou o dedo mindinho da mão direita apoia-se precisamente no canto inferior esquerdo do telemóvel para o estabilizar. E é exatamente aí que a Google decidiu colocar o microfone principal.
O resultado é que, ao segurar o telemóvel da forma mais natural e estável para filmar, estás a tapar diretamente o microfone, o que leva a um som abafado, com o volume a oscilar e de uma qualidade geral muito pobre.
“Estás a segurar mal”: o regresso de uma frase infame
Esta situação faz lembrar um dos momentos mais infames da história dos smartphones: o caso “Antennagate” do iPhone 4. Na altura, quando os utilizadores se queixavam de problemas de rede, Steve Jobs respondeu que eles estavam “a segurar o telemóvel da forma errada”. Embora o problema do Pixel seja menos grave, a sua origem é a mesma: uma falha de design que força o utilizador a adaptar o seu comportamento natural ao dispositivo, em vez de o dispositivo ser desenhado de forma intuitiva para o utilizador.

Como resolver o problema (por agora)
A solução, claro, é simples: rodar o telemóvel 180 graus, segurando-o “de cabeça para baixo”. Desta forma, a tua mão direita deixa de tapar o microfone. No entanto, esta “solução” cria os seus próprios problemas de usabilidade.
Ao inverteres o telemóvel, os botões de volume e de ligar/desligar passam para a parte de baixo, tornando-se difíceis de alcançar e premir. Para muitos, esta posição é simplesmente estranha e pouco ergonómica. É uma solução de recurso, não uma solução real. Exige que o utilizador pense ativamente numa coisa em que nunca deveria ter de pensar: “qual é a orientação correta para segurar o meu telemóvel?”.
Este pequeno deslize não é, provavelmente, um defeito grave o suficiente para justificar uma devolução em massa, mas é uma daquelas falhas de design frustrantes que mancham a experiência de um dispositivo que, de resto, é de topo. É um lembrete de que, no design de um smartphone, cada milímetro conta, e ignorar a forma como a maioria das pessoas segura um objeto é um erro de principiante.
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