No palco do seu grande evento anual, o Huawei Connect 2025, um dos mais altos executivos da empresa fez algo raro no ultracompetitivo mundo da tecnologia: admitiu uma fraqueza. Eric Xu Zhijun, o Presidente Rotativo da Huawei, reconheceu abertamente que, devido às sanções dos EUA, os processadores de inteligência artificial da empresa, individualmente, não conseguem igualar a potência dos da Nvidia. Mas esta admissão de inferioridade não foi um sinal de derrota. Pelo contrário, foi o prelúdio para a revelação de uma estratégia brilhante e desafiadora, um “plano B” que mostra como a Huawei transformou a sua maior vulnerabilidade na sua nova arma secreta.
Isolada das fábricas de semicondutores mais avançadas do mundo, a gigante chinesa não tentou lutar a batalha nos termos do seu adversário. Em vez disso, mudou as regras do jogo, apostando na sua vasta experiência em redes para criar uma arquitetura de supercomputação que contorna as suas limitações e a coloca novamente na corrida pela liderança da IA.
A fraqueza assumida: o bloqueio à TSMC
Para entender o plano da Huawei, é preciso primeiro entender o problema. As sanções impostas pelos Estados Unidos cortaram o acesso da empresa à TSMC, a fundição taiwanesa que produz os chips mais avançados do planeta. Sem acesso aos processos de fabrico de ponta, é fisicamente impossível para a Huawei construir um único processador de IA que seja tão pequeno, rápido e eficiente como os que a Nvidia consegue produzir.
Foi esta a fraqueza que Eric Xu admitiu: “O poder de computação dos nossos chips individuais está atrás do da Nvidia”. Esta honestidade brutal serviu para contextualizar a solução engenhosa que a empresa desenvolveu para superar este obstáculo aparentemente intransponível.

Transformar a conectividade na arma principal
Se não podes construir o cérebro mais potente, constrói o sistema nervoso mais rápido do mundo. Esta parece ter sido a filosofia da Huawei. A empresa decidiu alavancar os seus mais de 30 anos de liderança no setor das telecomunicações e da conectividade para resolver um problema de hardware.
A solução chama-se “super-nós” (super-nodes), e a tecnologia que a torna possível é o seu protocolo de interligação proprietário, o “UnifiedBus”. Em vez de depender do poder de um único processador, a estratégia da Huawei passa por ligar dezenas de milhares dos seus processadores Ascend, que são individualmente menos potentes, numa única e massiva rede coesa.
O segredo está na velocidade e na eficiência dessa ligação. Ao otimizar a forma como os seus chips comunicam entre si, a Huawei afirma conseguir criar um sistema distribuído cujo poder de computação total, como um todo, é capaz de “manter consistentemente o maior poder de computação do mundo”. É uma abordagem de “força nos números”, onde a arquitetura de rede compensa a fraqueza do componente individual.
Os frutos da autossuficiência forçada
Esta não é uma promessa vazia. Já vimos provas de que a estratégia de autossuficiência da Huawei está a dar resultados. Em 2023, a empresa chocou o mundo com o lançamento do processador Kirin 5G na sua série de telemóveis Mate 60, demonstrando uma capacidade de produção de chips avançados que muitos analistas consideravam impossível sob as sanções.
No campo da IA, os seus processadores Ascend têm vindo a ganhar terreno, especialmente no mercado chinês. Com o acesso aos chips da Nvidia restringido na China, as empresas locais estão a virar-se cada vez mais para as soluções da Huawei, criando um ecossistema robusto e validando a sua abordagem de super-nós em aplicações do mundo real.
A revelação da Huawei no seu evento Connect 2025 é mais do que um anúncio técnico; é uma demonstração de resiliência. Mostra que as sanções, embora tenham causado danos significativos, também forçaram a empresa a inovar de formas inesperadas, explorando os seus pontos fortes históricos para contornar as suas fraquezas atuais. A corrida pela supremacia na IA está longe de terminar, e a Huawei acaba de provar que há mais do que um caminho para chegar ao topo.
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