A empresa portuguesa de soluções de IT, Compuworks, apresentou o estudo “IT Future Trends 2035”, uma análise aprofundada aos desafios e prioridades da tecnologia em Portugal para a próxima década. Desenvolvido com base em contributos de dezenas de líderes de IT nacionais, o trabalho traça um retrato complexo do setor, marcado por uma perceção de inevitabilidade dos ciberataques, um forte ceticismo em relação à liderança tecnológica da Europa e a ascensão da sustentabilidade como pilar estratégico.
O estudo “IT Future Trends 2035” conclui que, embora conscientes das tendências globais, os decisores nacionais enfrentam barreiras estruturais que condicionam a transformação digital. A área de IT, no entanto, deverá assumir um papel cada vez mais central na estratégia de negócio das empresas portuguesas.

Ceticismo sobre a soberania digital europeia
Apesar do discurso político da União Europeia, os líderes de IT portugueses mostram-se céticos quanto à capacidade do continente para competir com os Estados Unidos e a China. Apenas uma minoria (12%) acredita que a Europa conseguirá atingir a liderança tecnológica global até 2035, com a maioria a apontar para a dependência de infraestruturas e tecnologias externas como uma limitação estrutural.
Indicadores principais:
- 74% consideram que a ciberdefesa europeia será decisiva para garantir soberania digital.
- 92% da infraestrutura de cloud da Europa é controlada por empresas dos EUA.
- 80% dos semicondutores usados na Europa vêm de fora da União Europeia.
- As 5 maiores empresas americanas investem mais em Investigação & Desenvolvimento do que os 27 países da UE juntos.
Cibersegurança: a vulnerabilidade como ponto de partida
A cibersegurança é identificada como uma das áreas mais críticas. A maioria dos líderes inquiridos (76%) acredita que a sua organização irá sofrer um ciberataque com impacto material até 2035, e mais de metade (58%) admite não estar preparada para responder de forma eficaz. Regulamentos como a diretiva NIS2 e o DORA são vistos como catalisadores para aumentar a maturidade do setor.
Indicadores principais:
- 67% das organizações já sofreram perdas materiais de dados no último ano.
- 64% reconhecem que a sua organização estaria disposta a pagar um resgate em caso de ataque.
- 50% nunca implementaram arquiteturas XDR ou Zero Trust.
- 83,15% defendem o investimento em IA para reforçar a cibersegurança.
Inteligência artificial: potencial reconhecido, maturidade incipiente
A IA é apontada como a tecnologia de maior impacto na próxima década. Contudo, o estudo “IT Future Trends 2035” revela que, embora 55% das empresas já estejam a considerar ou a desenvolver soluções de IA, a sua adoção plena é travada pela falta de competências e por uma cultura organizacional ainda pouco preparada para a mudança (apontado por 38% dos líderes).
Indicadores principais:
- 62% dos líderes acreditam que a IA terá um impacto profundo nos métodos de trabalho até 2035.
- 47% referem a geração automática de código como área prioritária para a implementação de IA.
- 42% estão a apostar em ferramentas de IA para monitorização e administração de sistemas.
Sustentabilidade como fator estratégico de negócio
A sustentabilidade deixou de ser uma questão de imagem para se tornar um critério decisivo na seleção de parceiros tecnológicos. A eficiência energética e os objetivos de neutralidade carbónica dos fornecedores são agora uma prioridade, impulsionada tanto pela pressão regulatória europeia como pelo aumento dos custos energéticos.
Indicadores principais:
- 71% consideram os objetivos de neutralidade carbónica dos data centers como fator decisivo na escolha de parceiros.
- 74% valorizam a integração de políticas ESG (Environmental, Social, and Governance) como elemento crítico na estratégia de IT.
- 85% concordam que a procura crescente por data centers impõe desafios de neutralidade carbónica.
O novo papel estratégico da área de IT
O estudo “IT Future Trends 2035” conclui com uma nota sobre a evolução do papel do departamento de IT. A perceção está a mudar de uma função de suporte operacional para um pilar de inovação e estratégia.
Indicadores principais:
- 64% acreditam que o IT será posicionado como área estratégica até 2035.
- Apenas 18% consideram que continuará a ser visto sobretudo como função de suporte.
Conclusão
O estudo “IT Future Trends 2035” da Compuworks traça o perfil de um setor tecnológico português em transição. Os seus líderes demonstram uma consciência clara dos desafios e das oportunidades globais, desde a inevitabilidade dos ciberataques à revolução da IA e à urgência da sustentabilidade. No entanto, esta consciência coexiste com um pragmatismo que reconhece as barreiras estruturais do país e o ceticismo face às grandes narrativas políticas, como a da soberania digital europeia. O caminho para 2035 será, segundo o estudo, definido pela capacidade de transformar esta consciência em investimento e ação concreta.
Perguntas Frequentes (FAQ)
Qual a principal conclusão do estudo “IT Future Trends 2035”?
A principal conclusão é que os líderes de IT em Portugal estão cientes dos grandes desafios tecnológicos (cibersegurança, IA, sustentabilidade), mas enfrentam barreiras estruturais e mostram-se céticos em relação à capacidade da Europa para competir tecnologicamente com os EUA e a China.
Porque é que os líderes de IT portugueses estão céticos em relação à “soberania digital” europeia?
O ceticismo baseia-se na elevada dependência da Europa de tecnologias externas, como a infraestrutura de cloud (92% controlada por empresas dos EUA), semicondutores (80% importados) e um menor investimento em I&D em comparação com os gigantes tecnológicos americanos.
A sustentabilidade é realmente um fator importante para as empresas de IT em Portugal?
Sim. Segundo o estudo, 71% dos líderes já consideram os objetivos de neutralidade carbónica dos seus fornecedores de data centers como um fator decisivo na tomada de decisão, o que indica que a sustentabilidade passou a ser um critério de negócio estratégico.
IT Future Trends 2035: Principais Indicadores do Estudo
| Categoria | Indicador |
| Geopolítica e Soberania Digital | 74% consideram a ciberdefesa europeia decisiva para garantir a soberania digital. |
| 68% acreditam que a cooperação internacional será essencial. | |
| Apenas 12% confiam que a Europa conseguirá atingir liderança tecnológica até 2035. | |
| 92% da infraestrutura de cloud na Europa é controlada por empresas dos EUA. | |
| 80% dos semicondutores usados na Europa vêm de fora da União Europeia. | |
| As 5 maiores empresas americanas investem mais em P&D do que todos os 27 países da UE juntos. | |
| Contexto Português | Especialistas em TIC representam apenas 5,2% do emprego em Portugal. |
| Apenas 22,7% dos especialistas em TIC são mulheres. | |
| 56% da população portuguesa tinha apenas competências digitais básicas em 2023. | |
| 57,5% das empresas da UE reportam dificuldades em recrutar profissionais de TIC. | |
| Portugal dedica 21% do PRR ao digital (€4,5 mil milhões) e 11% dos fundos de coesão (€2,4 mil milhões). | |
| Cibersegurança | 76% acreditam que a sua organização sofrerá um ciberataque material até 2035. |
| 58% admitem não estar preparados para responder eficazmente. | |
| 67% já sofreram perdas materiais de dados no último ano. | |
| 92% atribuíram essas perdas a ameaças internas. | |
| 64% aceitariam pagar um resgate em caso de ataque. | |
| 50% nunca implementaram XDR ou Zero Trust; apenas 27% já implementaram ambas. | |
| 83,15% defendem investir em IA para reforçar a cibersegurança. | |
| Inteligência Artificial | 55% das empresas já estão a desenvolver ou a considerar soluções de IA. |
| 62% dos líderes acreditam que a IA terá um impacto profundo nos métodos de trabalho. | |
| 38% identificam a falta de competências e cultura como principal entrave. | |
| Apenas 8,6% das empresas portuguesas tinham adotado IA em 2024. | |
| Mais de 70% das empresas já estão a adotar ou a planear adotar IA. | |
| Modelos de Trabalho e Competências | 69% acreditam que o modelo híbrido será predominante em 2035. |
| 72% indicam a cibersegurança como a competência mais valorizada em profissionais de IT. | |
| 68% destacam a inteligência artificial como competência crítica. | |
| 64% referem a visão estratégica como diferenciador essencial. | |
| Infraestruturas e Cloud | 66% consideram que o maior risco está em não inovar. |
| 54% acreditam que a cloud é apenas uma etapa de transição. | |
| 71,7% veem o multi-cloud como estratégico para a resiliência. | |
| 43,82% acreditam que a cloud híbrida com edge computing será o modelo dominante em 2035. | |
| Sustentabilidade e ESG | 71% consideram os objetivos de neutralidade carbónica dos data centers um fator decisivo na escolha de parceiros. |
| 74% valorizam a integração de políticas ESG como elemento crítico na estratégia de IT. | |
| 85% concordam que a procura por data centers impõe desafios de neutralidade carbónica. | |
| Papel Estratégico do IT | 64% acreditam que o IT será posicionado como área estratégica até 2035. |
| Apenas 18% consideram que continuará a ser visto como uma função de suporte. | |
| Economia e Startups | Portugal tinha cerca de 4.700 startups em 2024 e projeta chegar às 6.000 até 2030. |
| A taxa de sucesso de Portugal no EIC Accelerator é de 9,68%, acima da média europeia (7,16%). |
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