A nova e rigorosa Lei Europeia da Acessibilidade (EAA) apanhou muitas empresas de surpresa, criando uma corrida contra o tempo para tornar os seus websites e aplicações acessíveis a todos, sob pena de multas pesadas. No meio deste “caos” de conformidade, surge uma startup irlandesa, a DevAlly, com uma solução tecnológica e uma história de origem invulgar: o seu fundador é um veterano da icónica série de videojogos Battlefield.
A empresa, liderada pelo empreendedor irlandês Cormac Chisholm, acaba de anunciar que angariou 2 milhões de euros em financiamento pré-seed. O objetivo é expandir a sua plataforma, que usa inteligência artificial para ajudar as empresas a navegarem e a cumprirem as novas e complexas regras de acessibilidade digital da União Europeia.
O que é a Lei Europeia da Acessibilidade (e porque é que as empresas estão em pânico)?
A EAA é uma diretiva da União Europeia que estabelece um conjunto de normas de acessibilidade para uma vasta gama de produtos e serviços digitais, desde websites de comércio eletrónico a aplicações bancárias e livros digitais. O objetivo é garantir que os cerca de 450 milhões de consumidores da UE, incluindo os que têm deficiências visuais, auditivas, motoras ou cognitivas, possam aceder e usar estes serviços sem barreiras.
A lei entrou em vigor em junho de 2025 para todos os novos produtos e serviços, com multas pesadas para quem não cumprir. As empresas com produtos já existentes têm um período de carência para se adaptarem até 2030. O problema? Muitas não estavam preparadas. “Uma das coisas que nos surpreendeu foi ver empresas, até mesmo empresas gigantes, a virem ter connosco duas semanas antes do prazo a dizer: ‘Oh, não sabíamos nada sobre isto'”, revelou o fundador da DevAlly, Cormac Chisholm.

A solução da DevAlly: IA em vez de consultores
Tradicionalmente, a verificação de acessibilidade era um processo manual, lento e caro, feito por consultores humanos. A DevAlly propõe uma abordagem diferente. A sua plataforma usa inteligência artificial e modelos de linguagem (LLMs) especializados para auditar automaticamente as plataformas digitais dos seus clientes.
O sistema consegue detetar problemas como vídeos sem legendas, botões que não podem ser lidos por leitores de ecrã ou combinações de cores que são ilegíveis para daltónicos. Para além de identificar as falhas, a plataforma ajuda as empresas a criar um plano de ação para as corrigir e a gerar os relatórios de conformidade exigidos por lei, integrando a acessibilidade diretamente no ciclo de desenvolvimento do produto.
“Um bom design é um design acessível”: a filosofia por trás do negócio
Para os fundadores da DevAlly, esta não é apenas uma questão de cumprir a lei; é uma questão de bom design e de uma enorme oportunidade de negócio. Como salienta Chisholm, “um bom design é um design acessível”. Ele lembra que uma em cada cinco pessoas vive com algum tipo de deficiência.
Mas a acessibilidade vai mais além. A “deficiência” pode ser situacional. Se estás a tentar usar o teu smartphone sob a luz solar intensa e não consegues ler o ecrã, estás a sofrer de uma deficiência visual temporária. Se estás a segurar um bebé ao colo e só tens uma mão livre, estás a sofrer de uma deficiência motora temporária. “Por isso, o objetivo é criar um design o mais universal possível”, defende. As melhorias feitas a pensar na acessibilidade, como as legendas na Netflix, acabam por beneficiar todos os utilizadores.
A isto junta-se o fator económico: estima-se que os consumidores com deficiência e as suas famílias representem um poder de compra de 8 biliões de dólares a nível mundial, um mercado gigante que tem sido largamente ignorado.
O futuro da DevAlly: da Irlanda para o mundo
Com o financiamento de 2 milhões de euros, liderado pelo fundo belga Miles Ahead Capital, a DevAlly planeia expandir a sua equipa e iniciar a sua expansão para os Estados Unidos. A estratégia é posicionar-se como uma “ponte para a Europa” para as empresas americanas que queiram vender os seus produtos no mercado europeu e que, para isso, terão obrigatoriamente de cumprir a nova lei.
Numa altura em que a regulamentação digital se torna cada vez mais complexa, startups como a DevAlly demonstram como a tecnologia, e em particular a IA, pode ser uma aliada fundamental para transformar uma obrigação legal numa oportunidade de criar produtos melhores e mais inclusivos para todos.
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