O assédio online não é um problema novo, mas os números mais recentes mostram uma escalada preocupante. Dados do Cyberbullying Research Center revelam que mais de 58% dos alunos nos EUA já sofreram algum tipo de assédio online.
Em Portugal, o cenário é igualmente alarmante: o Relatório do Grupo de Trabalho de Combate ao Bullying nas Escolas, formado pelo Centro Internet Segura (CIS), aponta para uma prevalência de vitimização nas escolas portuguesas superior à de outros países europeus.

Perante esta realidade, a preocupação dos pais é justificada, mas o caminho para ajudar nem sempre é claro, muitas vezes toldado por ideias erradas. A empresa de cibersegurança ESET decidiu desconstruir dez dos mitos sobre ciberbullying mais comuns. Conhecê-los é o primeiro passo para proteger verdadeiramente os mais novos.
Os 10 mitos sobre ciberbullying que precisam de ser desfeitos
- “O que acontece online, fica online” A ideia de que o assédio digital é um problema virtual é talvez o erro mais perigoso. O ciberbullying deixa cicatrizes psicológicas muito reais e duradouras. As plataformas digitais apenas amplificam um comportamento que tem raízes na vida real, e as suas consequências afetam a saúde mental e o bem-estar da vítima no seu dia a dia.
- “São apenas crianças a serem crianças” Desvalorizar o bullying como uma fase normal do crescimento é minimizar a sua gravidade. O assédio, seja online ou offline, pode ter um impacto sério e a longo prazo no desenvolvimento social e emocional de uma criança. Além disso, o ciberbullying não é exclusivo dos mais novos; adultos também são vítimas de trolling, doxing ou stalking.
- “Se ignorares, eles acabam por parar” Raramente funciona. Tentar ignorar o agressor pode, na verdade, encorajá-lo, pois ele sente que as suas ações estão a ter o efeito desejado. Da mesma forma, o medo de que “denunciar só piora” é contraproducente. Enfrentar a situação, seja através do diálogo ou do bloqueio e denúncia, é a única forma de começar a resolver o problema.
- “O meu filho vai contar-me se algo estiver errado” Nem sempre. Especialmente na adolescência, a vergonha, a humilhação ou o medo de um castigo (como ficar sem o telemóvel) podem impedir uma criança de pedir ajuda. Podem até não compreender a gravidade do que lhes está a acontecer. A chave é criar um ambiente de confiança, garantindo que está lá para apoiar, e não para julgar.
- “Se lhe tirar a tecnologia, resolvo o problema” O ciberbullying é facilitado pela tecnologia, mas não desaparece com ela. Se o assédio acontece na escola, ele continuará nos corredores. Retirar o acesso a dispositivos pode isolar ainda mais a vítima e ser visto como um castigo, o que não ajuda em nada a relação de confiança entre pais e filhos.
- “É quase impossível identificar os agressores online” Apesar de o anonimato online poder dar uma falsa sensação de poder, a realidade é que a maioria dos agressores conhece as suas vítimas. São, na maior parte das vezes, colegas de escola ou ex-amigos. As plataformas sociais têm mecanismos para identificar e agir sobre utilizadores que violam os seus termos de serviço.
- “O ciberbullying é fácil de identificar” Pelo contrário. Como não deixa marcas físicas, os sinais podem ser subtis. Mudanças repentinas de comportamento, de humor, ou uma quebra no rendimento escolar podem ser indicadores, mas não são uma certeza. É preciso estar atento e, por vezes, fazer perguntas diretas, mas com sensibilidade.
- “Os agressores são pessoas más e marginalizadas” A realidade é, muitas vezes, mais complexa. Muitas crianças que praticam bullying foram, elas próprias, vítimas de assédio ou abuso, têm baixa autoestima ou sofrem com a pressão do grupo. É fácil diabolizar o agressor, mas compreender as causas do seu comportamento é fundamental para resolver o problema na sua origem.
- “O ciberbullying causa um grande número de suicídios” Apesar de existirem casos trágicos que ligam os dois fenómenos, a correlação não implica uma causalidade direta. O suicídio em jovens é um problema complexo com múltiplas causas. No entanto, é inegável que o assédio online persistente é um fator de risco sério para a saúde mental dos mais vulneráveis e deve ser levado muito a sério.
- “A culpa é das plataformas de redes sociais” Embora as redes sociais sejam o palco onde muito do ciberbullying acontece, a responsabilidade é partilhada. As próprias plataformas estão, cada vez mais, a ser pressionadas por leis a policiar melhor os seus ecossistemas. O papel dos pais em educar os filhos para os riscos do online continua a ser insubstituível.
Como agir: Educação e tecnologia como aliadas
Ricardo Neves, da ESET Portugal, defende uma abordagem dupla. Por um lado, a educação. É fundamental “proteger e capacitar os mais jovens, ajudando-os a reconhecer riscos“.
Por outro lado, a tecnologia pode ser uma aliada. Ferramentas de controlo parental não servem para espiar, mas para criar um ambiente mais seguro. A ESET disponibiliza vários recursos para famílias na sua plataforma Safer Kids Online
Conclusão
Lidar com o ciberbullying não é uma ciência exata. O segredo parece estar no equilíbrio: não proibir o mundo digital, mas também não o ignorar. Estar atento aos sinais, manter a porta da conversa sempre aberta e oferecer apoio incondicional é, talvez, a ferramenta de segurança mais poderosa que qualquer pai pode instalar.
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