A administração Trump acaba de lançar uma nova ofensiva na guerra tecnológica contra a China, e as vítimas colaterais são três das maiores fabricantes de processadores do mundo. A Samsung, a TSMC e a SK Hynix viram o seu estatuto especial, que lhes permitia importar equipamento americano para as suas fábricas na China sem grandes burocracias, ser revogado.
A medida, que entra em vigor no final do ano, promete abrandar a produção e a modernização destas instalações, num movimento que, embora atinja diretamente as empresas sul-coreanas e taiwanesa, tem um alvo muito claro: a ambição da China de se tornar uma superpotência no fabrico de semicondutores.
O fim da “via verde” para a tecnologia americana
Até agora, gigantes como a Samsung e a TSMC beneficiavam de um estatuto de “utilizador final validado” (VEU, na sigla inglesa). Na prática, isto funcionava como uma espécie de “via verde” que lhes permitia importar tecnologia e equipamento de ponta dos EUA para as suas fábricas em solo chinês sem necessitarem de licenças individuais para cada operação. Era um processo rápido que garantia que a produção não parava.
Essa vantagem acabou. Com as novas regras, estas empresas terão de passar pelo moroso processo de licenciamento individual para cada peça de equipamento que queiram importar. Uma mudança que pode atrasar projetos em meses e que representa um enorme obstáculo logístico e financeiro.

O verdadeiro alvo não são as empresas, é Pequim
Apesar de a medida afetar diretamente a Samsung, a TSMC e a SK Hynix, a intenção da administração norte-americana não parece ser penalizar estas empresas. A decisão, segundo o Departamento do Comércio, faz parte de um esforço para “fechar lacunas no controlo de exportações” e impedir que tecnologias sensíveis acabem por beneficiar o avanço tecnológico chinês.
Ao dificultar a expansão e a atualização das fábricas que estas gigantes operam na China, Washington está, na prática, a colocar um travão no desenvolvimento da indústria de semicondutores chinesa, um dos pilares da sua estratégia de soberania tecnológica.
O paradoxo: restrições na China, milhares de milhões nos EUA
A ironia desta decisão não passou despercebida a ninguém. Ao mesmo tempo que a Casa Branca aperta o cerco às operações destas empresas na China, está a injetar milhares de milhões de dólares para que as mesmas construam novas e modernas fábricas em solo americano.
Através do CHIPS Act, a TSMC já anunciou um investimento colossal de 165 mil milhões de dólares no Arizona. A Samsung, por sua vez, garantiu 4,75 mil milhões em subsídios para uma nova fábrica de 37 mil milhões no Texas. E a SK Hynix recebeu quase mil milhões para construir instalações no Indiana.
A estratégia parece clara: usar um misto de incentivos e restrições para forçar estas empresas vitais a escolher um lado. Ao tornar as operações na China mais difíceis e as nos EUA mais atrativas, Washington está a enviar uma mensagem inequívoca na sua agenda de produção “America First”, redefinindo as alianças na complexa geopolítica da tecnologia.
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