Os nossos smartwatches já são excelentes a monitorizar a nossa atividade física, o nosso sono e o nosso ritmo cardíaco. Mas e se, no futuro, eles pudessem ir mais além e ajudar a detetar uma das condições médicas mais perigosas e silenciosas do mundo? Novas pistas, descobertas no código da aplicação Fitbit, sugerem que a Google está a trabalhar precisamente nesse sentido, com o objetivo de dotar o seu Pixel Watch da capacidade de detetar a hipertensão, ou tensão arterial alta.
A descoberta, feita pelo site 9to5Google, revela os primeiros passos de um plano ambicioso que, a concretizar-se, poderá transformar o relógio da Google de um simples acessório de bem-estar numa poderosa ferramenta de saúde preventiva, com o potencial para salvar vidas. No entanto, o caminho até lá é longo e cheio de desafios técnicos e regulamentares.
O que foi encontrado no código da aplicação Fitbit?
Escondido na mais recente versão da aplicação Fitbit para Android (versão 4.53), foram encontradas referências a um futuro estudo clínico, intitulado “Fitbit Hypertension Study”. Os detalhes no código descrevem como este estudo irá funcionar:
- A Google irá recrutar participantes voluntários.
- Estes participantes irão usar um Pixel Watch para recolher dados dos seus sensores.
- Em simultâneo, terão de usar uma braçadeira de medição de tensão arterial tradicional.
- No final do estudo, receberão uma compensação de 50 dólares pela sua participação e pela devolução do medidor de tensão.
É importante sublinhar que esta funcionalidade não está ativa em nenhum Pixel Watch atualmente no mercado. O que esta descoberta revela é a intenção e o método da Google: estão na fase de recolha de dados para treinar os seus algoritmos, tentando encontrar uma forma fiável de estimar a tensão arterial usando apenas os sensores óticos do relógio.

A “morte silenciosa”: porque é que esta função é tão importante?
A hipertensão é frequentemente chamada de “assassino silencioso” porque, na maioria dos casos, não apresenta quaisquer sintomas visíveis. No entanto, é um dos principais fatores de risco para ataques cardíacos, acidentes vasculares cerebrais (AVCs) e outras doenças cardiovasculares graves. Muitas pessoas vivem com tensão arterial alta durante anos sem o saberem.
A possibilidade de ter um dispositivo, que usas no pulso todos os dias, a fazer uma monitorização passiva e a alertar-te para potenciais sinais de hipertensão seria uma revolução na saúde preventiva. Poderia levar milhões de pessoas a procurar um diagnóstico médico e a iniciar um tratamento muito antes de a condição se tornar um problema grave.
O “santo graal” da tecnologia de vestir: medir a tensão sem braçadeira
O grande desafio técnico é conseguir medir a tensão arterial de forma precisa sem a tradicional braçadeira insuflável. Este é considerado o “santo graal” da tecnologia de wearables. A maioria dos smartwatches usa sensores óticos (PPG) que medem o fluxo sanguíneo através da pele, mas extrair dados fiáveis de tensão arterial a partir desta informação é extremamente complexo.
A concorrência já o tentou, com resultados limitados. O Samsung Galaxy Watch, por exemplo, oferece esta funcionalidade, mas exige que o utilizador calibre o relógio frequentemente com uma braçadeira real, o que torna o processo pouco prático e dependente de outro dispositivo.
A longa e sinuosa estrada da aprovação regulamentar
Mesmo que a Google consiga desenvolver um algoritmo preciso, o maior obstáculo ainda estará pela frente: a aprovação regulamentar. Para que a empresa possa anunciar e comercializar o Pixel Watch como um dispositivo capaz de detetar a hipertensão, terá de submeter a funcionalidade a uma rigorosa avaliação por parte de autoridades de saúde, como a FDA nos Estados Unidos ou as suas congéneres na Europa.
Este processo é longo, dispendioso e exige a apresentação de dados de estudos clínicos robustos que comprovem a eficácia e a segurança da funcionalidade. É esta barreira regulamentar que explica porque é que, apesar de muitas empresas estarem a trabalhar nisto há anos, ainda não vimos uma solução de medição de tensão arterial sem braçadeira verdadeiramente autónoma e clinicamente validada no mercado.
A descoberta no código da Fitbit é, portanto, um vislumbre emocionante do futuro da saúde digital. Mostra que a Google está a investir a sério na transformação do Pixel Watch numa ferramenta de saúde proativa, mas também nos lembra que, entre a ambição e a realidade, existe um longo caminho de desafios científicos e burocráticos a percorrer.
Outros artigos interessantes:









