Quando a Ubisoft desligou os servidores do jogo de corridas The Crew em março de 2024, transformou milhões de cópias compradas legalmente em pedaços de plástico e dados inúteis. Foi um fim abrupto e controverso para um jogo que dependia inteiramente da sua ligação online para funcionar. No entanto, onde a empresa viu um fim de linha, um grupo de fãs viu um desafio. Ontem, 15 de setembro de 2025, esse desafio materializou-se com o lançamento do “The Crew Unlimited”, um projeto que promete ressuscitar o jogo.
O que deveria ter sido um momento de pura celebração para a comunidade e um marco na preservação de videojogos, rapidamente se transformou num teste de fogo para os seus criadores. O lançamento foi caótico, não apenas por pequenos bugs expectáveis, mas por uma avalanche de problemas técnicos cuja origem foi rapidamente identificada: uma maré de jogadores a usar cópias piratas e corrompidas do jogo.
Uma vitória para a preservação… com um sabor amargo
Antes de mergulharmos no caos do lançamento, é importante entender a importância de projetos como o The Crew Unlimited. Numa era em que cada vez mais jogos são lançados como “serviços” que dependem de servidores centrais, o que acontece quando a empresa decide que já não é lucrativo mantê-los ligados? A resposta, na maioria das vezes, é que o jogo desaparece para sempre, independentemente de o teres comprado.
O The Crew Unlimited é um ato de resistência contra esta realidade. Criado por um grupo de programadores e fãs dedicados, o projeto consiste num emulador de servidor que engana o jogo, fazendo-o pensar que ainda está ligado à infraestrutura oficial da Ubisoft. É um trabalho de engenharia inversa complexo, feito por voluntários no seu tempo livre, com o único objetivo de permitir que as pessoas que compraram o jogo possam voltar a jogá-lo. É, na sua essência, um projeto de preservação digital.

O caos do primeiro dia: 10 horas de suporte e uma onda de bugs
A euforia do lançamento durou pouco. Poucas horas após o projeto ficar disponível, o seu canal de Discord foi inundado por pedidos de ajuda. Numa mensagem publicada esta manhã, o líder do projeto, conhecido como “whammy4”, revelou que a equipa esteve a prestar “mais de 10 horas de suporte técnico ininterrupto” desde o arranque.
A causa da maioria dos problemas tornou-se rapidamente evidente.
A frustração dos criadores com as cópias ilegais
Num desabafo sincero, “whammy4” explicou a situação: “Chegou ao meu conhecimento que muitos de vós adquiriram (através de métodos duvidosos…) ficheiros de jogo corrompidos/danificados. Se obtiveram os ficheiros de fontes duvidosas, não somos responsáveis pelo facto de o vosso jogo funcionar ou não.”
A declaração expõe o grande dilema do projeto. Os criadores não podem, por razões legais óbvias, distribuir os ficheiros do jogo. O seu launcher destina-se a quem já tem o The Crew instalado, idealmente uma cópia legítima da Steam. No entanto, como admitiram anteriormente, não têm forma de verificar a origem dos ficheiros de cada utilizador. O resultado foi o esperado: uma enchente de piratas com versões instáveis do jogo a exigir suporte técnico. “Os jogadores com cópias legítimas da Steam tiveram, de longe, o menor número de problemas, como seria de esperar”, acrescentou o programador, visivelmente frustrado.
Correr contra o tempo: as primeiras correções já estão no ar
Apesar dos contratempos, a equipa tem trabalhado incansavelmente para estabilizar a experiência para todos. Em menos de 24 horas, já foram lançadas múltiplas atualizações. A primeira, uma nova versão do launcher (1.1.0.0), corrigiu um problema grave que fazia com que o ficheiro de gravação desaparecesse, impedindo os jogadores de entrar no jogo.
Pouco depois, foram lançados dois hotfixes. A versão 1.1.1.0 resolveu um bug que criava automaticamente um perfil chamado “TCUPlayer”, e a versão 1.1.2.0 corrigiu um erro lógico que atribuía o nome “UserName” ao jogador por defeito. Estas correções rápidas demonstram a dedicação da equipa, mas também ilustram a complexidade de gerir um projeto desta natureza.
O lançamento do The Crew Unlimited é, simultaneamente, uma história de sucesso e um conto preventivo. Mostra o poder e a paixão das comunidades de fãs para salvar a história dos videojogos, mas também expõe a linha ténue que estes projetos têm de percorrer, apanhados entre o desejo de preservar um jogo e a inevitável dor de cabeça causada pela pirataria.
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