A Samsung é uma superpotência tecnológica, com uma liderança de anos em áreas críticas como os ecrãs OLED e os semicondutores de memória. Os seus segredos industriais valem milhares de milhões de euros e são a base da sua vantagem competitiva. Infelizmente, ser o melhor também te torna no principal alvo, e a empresa parece ter sido vítima de espionagem industrial mais uma vez.
Segundo a imprensa sul-coreana, a polícia iniciou uma nova investigação de grande escala sobre uma suspeita de fuga da mais recente tecnologia da Samsung Display para uma empresa concorrente na China. O caso é tão grave que uma equipa de elite da Agência Nacional de Polícia de Seul realizou buscas no campus de Asan da Samsung Display ontem, dia 1 de outubro, marcando o início de mais um capítulo numa longa e preocupante saga de traições internas.
O que aconteceu no campus da Samsung Display?
A investigação, que ainda se encontra numa fase inicial, foi despoletada por alegações de que múltiplos funcionários da Samsung Display poderão estar envolvidos na fuga de informação tecnológica para um concorrente chinês específico. A Equipa de Investigação de Segurança de Tecnologia Industrial está a analisar documentos e equipamentos apreendidos durante as buscas para determinar a escala da fuga e identificar os responsáveis.
Embora ainda não tenham sido feitas detenções, a expectativa é que, se as alegações se confirmarem, os responsáveis enfrentarão acusações criminais graves. Este não é apenas um problema empresarial; na Coreia do Sul, é visto como um ataque à segurança económica nacional.

Um filme que já vimos antes: o historial de fugas da Samsung
O que torna este incidente particularmente alarmante é o facto de não ser um caso isolado, mas sim a continuação de um padrão. A Samsung tem sido alvo de uma hemorragia constante de propriedade intelectual, muitas vezes perpetrada pelos seus próprios funcionários ou ex-funcionários, seduzidos por ofertas de empresas chinesas.
Recordemos alguns dos casos mais notórios dos últimos anos:
- Em 2020: Dois ex-investigadores da Samsung foram formalmente acusados de vender segredos da tecnologia OLED à China.
- Em 2023: Um investigador da Samsung Display foi detido e indiciado por vazar tecnologias OLED proprietárias, avaliadas em 300 milhões de dólares, para a China.
- Também em 2023: Um ex-funcionário da Samsung Electronics foi detido sob a acusação de roubar dados sensíveis sobre o fabrico de semicondutores com o objetivo de construir uma fábrica de chips rival na China, usando a tecnologia da Samsung como base.
Estes são apenas os casos que vieram a público. A realidade é que a Samsung trava uma batalha constante e silenciosa para proteger os seus segredos.
Porquê tantos espiões? A batalha pela supremacia tecnológica
A razão para estes ataques recorrentes é simples: a tecnologia da Samsung é a melhor do mundo em várias áreas, e os seus concorrentes chineses, impulsionados pela ambição de Pequim de alcançar a autossuficiência tecnológica, estão dispostos a tudo para encurtar a distância. Em vez de gastarem anos e milhares de milhões em investigação e desenvolvimento, é muitas vezes mais rápido e barato tentar comprar os segredos a quem os detém.
Isto cria um mercado negro de talento e informação, onde engenheiros e investigadores da Samsung são aliciados com salários astronómicos e posições de chefia em empresas concorrentes, em troca do seu conhecimento e, por vezes, de ficheiros e documentos confidenciais.
Apesar de a Samsung ter medidas de segurança “intensas”, a ameaça interna – o funcionário descontente ou ganancioso que tem acesso legítimo à informação – continua a ser o elo mais fraco e o mais difícil de proteger.
Um assunto de estado
A importância da Samsung para a economia da Coreia do Sul não pode ser subestimada. A sua liderança tecnológica é uma questão de orgulho nacional e um pilar da sua prosperidade económica. É por isso que o governo sul-coreano encara estes casos de espionagem industrial com a máxima seriedade, mobilizando as suas principais agências de investigação. Proteger a Samsung é proteger a própria economia do país.
Este novo incidente é um lembrete sombrio de que, na corrida global pela tecnologia, a inovação é apenas metade da batalha. A outra metade, talvez a mais difícil, é conseguir guardar os segredos que te mantêm na liderança.
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