Este ano os fãs dos simuladores de futebol terão a sua tarefa extremamente dificultada. Oh, se têm. Confesso, desde já, que comecei a testar o novo PES 2016 com os óculos da EA Sports ainda colocados. O último título da saga da Konami a correr numa plataforma minha tinha sido o PES 2009 e não conseguia esquecer aquela tristeza. Jogadores completamente mecânicos, gráficos perros, animações quase caricatas e uma jogabilidade muito longe doutros tempos, um pouco à semelhança do Porto de hoje, em comparação com o Porto de Mourinho. Mas voltando ao raciocínio inicial, e mantendo a analogia com o Porto – PES 2016 é a versão digital de um hipotético regresso de Mourinho ao Dragão, com um futebol mais requintado, capaz de medir forças e ganhar qualquer jogo, faltando-lhe apenas uma contratação para conseguir a hegemonia total. Portanto, agora que estou a ficar sem trocadilhos futebolísticos, vamos colocar a bola a rolar e começar a análise?
Gráficos
Este é o jogo de futebol mais bonito que joguei. Ponto final. Porquê? Ora bem. Comecemos pelos jogadores. Como, oportunamente, vos relatei na antevisão a este título, fiquei completamente apaixonado pelo movimento fluido dos elementos em campo. Mas é muito, muito mais do que isso. As animações de cada jogador conseguem, por vezes, emular perfeitamente uma partida real. A troca de bola, virando o flanco, com o arco que a bola descreve. A recepção do jogador, que varia consoante o pé utilizado, o local no campo, o movimento prévio, a pressão que pode estar a sofrer, a força do passe. Os duelos um-para-um, com movimentações reais. O movimento colectivo, onde a equipa toda funciona como um bloco fechado, ou uma amálgama de jogadores em cima da bola consoante a táctica. As defesas, finalmente, realistas dos guarda-redes. Os remates que parecem acabados de sair do nosso pé. Tudo, tudo, parece acabado de sair de um jogo de futebol que pudéssemos estar a assistir. Os estádios estão soberbos e altamente imersivos. As faces e equipamentos estão também altamente realistas e, mais uma vez, volto a reforçar – ter a Fox Engine muda o panorama. Infelizmente, tratando-se de um PES, continuamos a não ter todas as ligas licenciadas, o que significa que, pelo menos no meu caso, tive que fazer toda uma campanha com o Borfecão (vulgo Boavista). Enfim, é e será sempre a pedra no sapato da franquia da Konami. Nem ter o ambiente das competições europeias e sul-americanas consegue camuflar esse espaço vazio. O modo editor, agora também disponível para PS4 e Xbox One, acaba por ajudar neste patamar, mas nada que se assemelhe ao Fifa e as licenças esmagadoras.
Banda-Sonora
Exercício de memória: Recordam-se da intro do Pro Evolution Soccer 2? Ficou na retina a excelente utilização do tema icónico do Queen, We Will Rock You, com uma FMV de diversas partidas de futebol entre selecções. Naquela época, era do mais épico possível num campo de futebol e é, ainda hoje, um dos momentos-chave da franquia. Assim, a banda-sonora do PES 2016, quase em uníssono com o seu antecessor, continua, claro, a ter um catálogo musical muito menos extenso que o seu arqui-rival. Contudo, o We Will Rock You volta a ser utilizado – desta feita, no início de uma carreira no modo Master League. E é na utilização destes temas lendários, como o hino da Champions League, que torna a banda-sonora do PES muito mais especial, infelizmente, apenas a espaços. Em campo faltam os cânticos, mas o ruído está bem colocado e realista. Não será por não ouvirmos “Tudo a saltar! Tudo a saltar!” que a imersão se perde.
Jogabilidade
Jogar PES é simples. Dominar PES já está ao alcance de poucos. Mas está tudo organizado de forma perfeita. Os menus estão todos divididos numa esquemática muito semelhante ao Football Manager, e o manancial de opções tácticas é um dos factores que me parecem absolutamente vencedores. Podemos escolher tácticas pré-definidas, substituições pré-definidas, preparar alterações fluidas do nosso onze base durante o jogo, como também customizar o comportamento dos jogadores em campo com e sem bola, podendo o esquema táctico sofrer alterações tendo em conta o momento de jogo. E isto é só a preparação táctica! No modo Master League podemos desenvolver jogadores com esquemas de treino individuais ou mantê-los todos com um treino diversificado, bem como escolher olheiros que procurem especificamente por lacunas na nossa equipa ou um set de habilidades necessárias, tendo sempre em atenção o nosso orçamento. A gestão da moral da equipa é também feita tendo em conta os jogadores que utilizamos e a sua captação da rotina – quanto mais vezes repetirmos o onze inicial, mais familiarizados ficam com as tácticas utilizadas. A substituição de um jogador por lesão poderá trazer um desequilíbrio enorme à performance táctica da equipa, consoante, claro, o nível de rotação que aplicamos no nosso plantel, pelo que é necessário ter-se em atenção a gestão efectiva dos jogadores. O modo MyClub é, no entanto, em tudo semelhante ao Fifa Ultimate Team, sendo que, em vez das carteirinhas com cromos, temos um sorteio com bolas de diversas cores que representam a raridade dos jogadores que nos podem sair. A eficiência táctica mantém-se e, aqui, o objectivo é levarmos qualquer plantel ao estrelato, com os jogadores que vamos conseguindo encontrar no sorteio. Dentro de campo, aconteceu-me algo que não pensei que voltasse a ocorrer. Imaginei-me, por segundos, que estava de novo a jogar o PES 06. O sistema de colisão e a melhoria da AI deste jogo tornam-no no melhor jogo de futebol, neste momento. E esta qualidade não está apoiada em nenhuma gimmick extra, nenhum modo adicional, não. Simplesmente tem um design de jogo absolutamente irrepreensível. Claramente o foco está todo dentro da qualidade do realismo daquilo que se passa dentro de campo. E é uma experiência tão sensorial, que é preciso que realmente peguem no comando e sintam as diferenças. É assim tão bom.
Diversão
A diversão é, em poucas palavras, garantida. Quem goste de criar carreiras com os seus clubes favoritos pode usar e abusar do modo Master League, quem queira um bom desafio online tem o modo MyClub, quem quiser jogar apenas uma competição internacional emblemática tem os diversos troféus oficiais disponíveis e, o mais importante de todos – quem quiser jogar o melhor jogo de futebol de sempre, pode fazê-lo com o PES 2016. O grande senão está mesmo na ausência de todas as licenças, podendo tornar frustrante os adeptos da liga alemã, por exemplo. Agora, se o objectivo é pegar no esférico – salvo seja -, dar umas nózadas, humilhar o amigo do lado ou o miúdo de 10 anos do Uzbequistão, então sim, nas eternas palavras de Jorge Perestrelo, “Ripa na rapaqueca”!
Conclusão
Tenho que fazer aqui um pequeno parêntesis. Infelizmente, o TecheNet não teve oportunidade de testar o FIFA 16, pelo que não poderei dizer, com toda a segurança, qual dos dois é efectivamente o melhor jogo de futebol de 2015. Posso, isso sim, dizer que desde o PES 06 que não havia uma edição do simulador da Konami tão boa. É um regresso à velha forma, um pouco como o regressar do Real Madrid aos grandes palcos, o futebol do Benfica na era Jesus, o Borussia Dortmund na final da Liga dos Campeões. PES é o equivalente ao lutador de Wrestling que, passados alguns anos de estar na ribalta e de diversas desilusões, volta a um grande palco e volta a brilhar, como se nada tivesse acontecido. Nesses casos, os gritos do público são, por norma, “You still got it!”. E a verdade é que, com esta edição, a Konami prova que sim, os cânticos são merecidos. Resta-nos saudar o regresso à forma da franquia Pro Evolution Soccer.
Comentários