
No final de Junho saiu um novo álbum do velho senhor Neil Young – “The Monsanto Years” – , em colaboração com os jovens filhos do seu amigo Willie Nelson, Lukas e Micah, e a sua banda,“The Promise Of The Real”.
O músico que vai completar em Novembro de 2015 uns brilhantes setenta anos plenos de música e de activismo, em especial pela agricultura sustentável e que invadiu a noite de neblina de Vilar de Mouros, em 13 de Julho de 2001, há precisamente catorze anos, continua activo e em força, como ele próprio canta “Like a Hurricane”. Não se rende ao passar dos anos. E ainda bem. Continua a brindar-nos com o seu som, o seu estilo. Chamemos-lhe o estilo Young, porque aquela combinação de folk-rock, country e blues é concebida através de proporções únicas que só ele conhece: é a sua receita mágica, é a sua própria identidade.
Mais uma vez, Neil Young trabalha em equipa, com pessoas mais jovens, como já acontecera com Pearl Jam nos anos 90, no que parece ser uma partilha de sabedoria e inovação, sem sair do seu estilo próprio, agarrando causas e transformando-as em canções.
“The Monsanto Years” é um grito de protesto contra a artificialidade das marcas que nos é imposta pela Starbucks, Wallmart e Chevron, e acima de tudo, pela multinacional de agricultura Monsanto, o que faz todo o sentido, tendo em conta o percurso de Young, pelo menos desde 1985, quando juntamente com Willie Nelson e John Mellencamp organizou a primeira “Farm Aid” nos EUA.
A “Farm Aid” começou por ser um concerto de beneficência, destinado a angariar fundos para as famílias de agricultores que estavam a perder as suas terras por dívidas hipotecárias. Este concerto teve cerca de 80 mil espectadores, contou com a participação de nomes como Bob Dylan, B.B. King e Roy Orbison, entre outros. Angariaram aproximadamente 9 milhões de dólares para essas famílias. O conceito evoluiu, não se ficou por um concerto apenas, tornou-se uma organização com intervenção activa junto do Parlamento. Em situações de desastres agrícolas naturais, como aconteceu na altura da devastação pelo furacão Katrina, prestam auxílio os agricultores tanto com alimentação, como através da prestação de apoio jurídico, financeiro e assistência psicológica.
Com este álbum, o músico canadiano inicia mais uma tournée nos Estados Unidos, “The Rebel Content Tour”. Em cada paragem, está programada a abertura com um solo acústico por Neil Young, a quem se juntarão os “Promise Of The Real” (PROTR), para um set elétrico completo. A acompanhar os músicos, estarão presentes activistas locais, nacionais e globais, na intervenção “Village of Action”, com stands de informação aos fans, a fim de os sensibilizar para o tema da agricultura sustentável, para as questões ambientais e de direitos humanos.
Este velho senhor, não é apenas, compositor e interprete, Neil Young tem vindo a mostrar ao mundo como se vive e como se cresce enquanto pessoa, através dos seus trabalhos que vêm a público a um ritmo relativamente constante, mesmo na sua fase negra e depressiva, dominada por temas como a morte, a loucura e a solidão, como aconteceu nos anos setenta, evoluindo para questões fora de si mesmo e do seu ego, revelando preocupação com os outros, com o mundo que o rodeia, por questões politicas e ambientais e na luta pela liberdade, “Rockin’ in a free world”.
O tema “Monsanto years”, não aparece como um tema de oportunidade para provar o quer que seja sobre a sua actualidade enquanto autor, todo o álbum, e esta faixa em particular, é um grito de protesto claro, sem rodeios, contra a artificialidade das marcas, contra o desrespeito pelos direitos humanos, o distanciamento crescente dos humanos fase à natureza:“(…) The seeds of life are not what they once were / Mother Nature and God don’t own them anymore”.
Sem pudores, descaradamente, a Starbucks também não escapa à sua crítica. Em “A Rock Star Bucks A Coffee Shop”, Neil Young, recusa-se a começar o seu dia com um café geneticamente modificado, a colaborar com a Monsanto. “I want a cup of coffee but I don’t want a GMO / I want to star my day off without helping Monsanto”.
O “furacão” Neil Young, no alto dos seus quase setenta anos, na sua voz única e na sua musicalidade genial, mostra que se mantém poderoso no seu apelo à rebeldia, à reconquista da liberdade que perdemos, ao criar as nossas próprias leis que nos obrigamos a respeitar.
“How can we regain our freedom / Lost by our own laws we must abide”
Site oficial do Neil Young: http://www.neilyoung.com
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