Kourou, Guiana Francesa — A Europa deu um passo decisivo para recuperar a sua autonomia no acesso ao espaço. O foguetão europeu Ariane 6 completou com sucesso o seu terceiro voo comercial, lançado na noite de terça-feira a partir do centro espacial de Kourou, na Guiana Francesa. O sucesso desta missão é uma vitória de engenharia e, mais importante ainda, uma afirmação de soberania para o continente.
O objetivo principal desta missão foi colocar em órbita o Sentinel-1D, um novo e vital satélite de observação da Terra, marcando mais uma etapa na consolidação do programa espacial europeu.
A missão: Sentinel-1D e a monitorização do planeta
O foguetão descolou às 18h02 locais (21h02 em Lisboa). A separação do satélite, que pesa pouco mais de duas toneladas, ocorreu 33 minutos e 51 segundos após a descolagem, com uma precisão que foi elogiada pelo presidente executivo da Arianespace, David Cavaillolès.
O satélite Sentinel-1D foi colocado numa órbita heliossíncrona a cerca de 700 quilómetros de altitude. Esta é uma órbita crítica, pois permite que o satélite sobrevoe todos os pontos da Terra à mesma hora solar, o que é essencial para comparar imagens ao longo do tempo e detetar alterações subtis na superfície do planeta.

Dados vitais para as alterações climáticas
O Sentinel-1D é um componente crucial do programa Copernicus, a iniciativa de observação da Terra da União Europeia. O satélite, fabricado pela Thales Alenia Space, irá fornecer dados valiosos a cientistas, governos e instituições globais para:
- Monitorizar alterações: Rastrear o gelo marinho, icebergs e glaciares.
- Detetar desastres: Identificar derrames de petróleo, desflorestação e os efeitos imediatos das alterações climáticas, como inundações e deslizamentos de terra.
Com uma vida útil planeada de sete anos e meio, o Sentinel-1D juntar-se-á ao Sentinel-1C (lançado no final de 2024) e substituirá o Sentinel-1A (lançado em 2014), que se aproxima do fim da sua operação. Como explicou Pier Bargellini, da Agência Espacial Europeia, estes satélites “operam em pares, são muito semelhantes, quase idênticos”, garantindo uma cobertura contínua e de alta precisão.
A importância geopolítica do Ariane 6
Para a Europa, o sucesso do Ariane 6 é mais do que um feito técnico. É uma recuperação da autonomia no acesso ao espaço.
Com o aumento da tensão nas relações diplomáticas entre os Estados Unidos e a Rússia – e as restrições no uso de foguetões russos como o Soyuz – a Europa viu-se num período de dependência, incapaz de lançar as suas próprias missões e os seus satélites essenciais sem recorrer a parceiros externos. O Ariane 6 é o veículo que põe fim a essa dependência.
Apesar de a Arianespace ter revisto em baixa a previsão de lançamentos comerciais do Ariane 6 em 2025, de cinco para quatro, a empresa prometeu duplicar este número em 2026. Estes lançamentos bem-sucedidos são a prova de que a Europa está a consolidar o seu lugar na nova e competitiva corrida espacial.
A próxima oportunidade de a Europa mostrar a sua força espacial será antes do final do ano, com pelo menos mais um voo comercial planeado para o Ariane 6.
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