A ByteDance, a gigante tecnológica por trás do fenómeno global TikTok e da sua versão chinesa Douyin, está a dar um passo ousado para fora da sua zona de conforto. A empresa decidiu entrar no mercado de smartphones com um objetivo claro: não quer vender hardware, quer dominar a inteligência artificial ao nível do sistema operativo.
Em parceria com a ZTE, a ByteDance lançou silenciosamente um primeiro “telemóvel de IA”, que esgotou rapidamente, e já está a desenvolver uma segunda geração para o final de 2026. Esta estratégia não é sobre criar o próximo iPhone, mas sim sobre criar o “cérebro” que controla o próximo iPhone.

O protótipo que esgotou: 30.000 unidades de teste
O primeiro fruto desta ambição foi o ZTE Nubia M153, um dispositivo comercializado não como um produto de massas, mas como um “protótipo de engenharia”. Apesar da produção limitada a cerca de 30.000 unidades, a procura foi explosiva, com os preços de revenda a subirem mais de 40%.
O objetivo deste lançamento não foi o lucro, mas sim a recolha de dados. A ByteDance queria testar no mundo real o seu assistente de IA, o Doubao, e a sua capacidade de realizar automação ao nível do sistema.
O que faz o Doubao tão especial (e assustador)?
Ao contrário dos assistentes tradicionais que vivem dentro de uma app, o Doubao foi desenhado para operar como uma camada sobre o sistema operativo. Ele consegue realizar operações complexas entre aplicações, como reservar bilhetes, marcar restaurantes ou comparar preços, controlando o telemóvel como se fosse um utilizador humano.
Esta capacidade de “agente autónomo” gerou controvérsia imediata. Várias grandes aplicações chinesas bloquearam ou limitaram o assistente, citando preocupações de privacidade e controlo de dados, receosas de uma IA que opera sem as permissões tradicionais de API.
A estratégia a longo prazo: ser o “Android da IA”?
Apesar do sucesso do hardware, a ByteDance foi clara: não planeia tornar-se uma fabricante de telemóveis a longo prazo. O seu objetivo com estes dispositivos é demonstrar a tecnologia e convencer outros fabricantes a adotarem o Doubao como a camada de inteligência dos seus smartphones.
No entanto, analistas da Morgan Stanley e da IDC alertam que este plano tem falhas. Gigantes como a Apple, Huawei e Xiaomi estão a investir biliões nos seus próprios sistemas de IA e dificilmente entregarão as chaves do seu ecossistema a um rival.
A ByteDance está, assim, numa corrida contra o tempo. Precisa de provar que a sua IA “agente” é tão superior que os fabricantes (ou os utilizadores) a exigirão, independentemente do hardware. Com uma segunda geração de smartphones planeada para o final de 2026, a dona do TikTok está disposta a gastar o que for preciso para garantir que o futuro da IA móvel passa por ela.
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