A luta da LaLiga contra a transmissão ilegal de jogos de futebol em Espanha está a atingir contornos surreais, com o bloqueio indiscriminado de sites a fazer vítimas completamente inesperadas. Na mais recente jornada do campeonato, a guerra à pirataria atingiu o cúmulo do ridículo ao bloquear o acesso a duas das maiores entidades do futebol: a DAZN, uma das plataformas que detém os direitos de transmissão oficiais, e o site da própria UEFA.
Este episódio, que mais parece uma comédia de erros, é o mais recente exemplo de uma estratégia de “matar moscas com um canhão”, em que sites e serviços legítimos são apanhados na rede, simplesmente por partilharem um endereço de IP com um alvo a abater.
Bloqueios que roçam o ridículo
A situação foi monitorizada e denunciada por J. Román, um conhecido divulgador de informática e streamer, que partilhou na sua conta do X/Twitter imagens que mostravam os sites Dazn.com e Uefa.com como estando indisponíveis por razões legais. A ironia é gritante: a mesma entidade que luta para proteger os seus direitos de transmissão acabou por bloquear uma das plataformas que os transmite legalmente.
Mas a lista de “vítimas inocentes” não se ficou por aqui. O site do Sevilha F.C. também foi apanhado na rede, mostrando a natureza cega e automática destes bloqueios.

Uma rede que apanha muito mais do que piratas
O problema não é novo, mas parece estar a agravar-se. Já na primeira jornada da liga, vários utilizadores queixaram-se de problemas de acesso a sites que nada têm a ver com futebol ou com a violação de propriedade intelectual. A lista de danos colaterais é variada e preocupante:
- Atrapalo.com: Um popular site de viagens e lazer.
- GitHub: A maior plataforma do mundo para alojamento de código e colaboração entre programadores.
- Sites de criadores de conteúdo: Até a plataforma do conhecido divulgador Brais Moure foi afetada.
A razão para estes bloqueios absurdos é puramente técnica e revela a fragilidade do método utilizado. Os bloqueios são feitos ao nível do endereço de IP. Se um site legítimo partilhar o mesmo IP que um serviço de streaming ilegal, ambos são bloqueados sem qualquer distinção.
Uma guerra cada vez mais agressiva
O cenário para este ano parece ainda mais negro do que no ano passado. As operadoras MásOrange e Vodafone subiram o nível de agressividade dos seus bloqueios, aproximando-se do que a Movistar e a Digi já faziam. A Movistar, por sua vez, foi ainda mais longe, passando a bloquear não só os endereços IPv4, mas também os IPv6, alargando ainda mais o cerco.
Esta escalada tem cobertura legal. A LaLiga e a Telefónica têm uma providência cautelar que as protege até 2027 e contam com o apoio do governo espanhol, pelo que não se espera que a situação mude a curto prazo. Empresas como a Cloudflare já levaram o assunto ao Tribunal Constitucional, mas qualquer decisão demorará a chegar.
A solução que não é solução
Para os utilizadores, a solução mais óbvia seria recorrer a uma VPN para contornar os bloqueios. No entanto, aqui surge mais uma ironia: a DAZN, uma das vítimas desta situação, proíbe expressamente a utilização de VPNs na sua plataforma, alegando motivos de segurança, direitos de emissão e qualidade do streaming.
Em suma, nos dias de jogo, a espada de Dâmocles paira sobre todo o tipo de sites e serviços legítimos. A luta contra a pirataria é válida, mas os métodos utilizados estão a causar o caos e a prejudicar empresas e utilizadores que nada têm a ver com o problema, e não parece haver uma solução à vista.
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