Nos últimos dois anos, a Samsung, a gigante incontestada da indústria de memórias, viu-se numa posição invulgar e desconfortável: a de ficar para trás. Na corrida frenética pelo fornecimento de memória de alta largura de banda (HBM) – o “combustível” essencial para os superprocessadores de inteligência artificial da Nvidia – a Samsung viu as suas rivais, a SK Hynix e a Micron, a ultrapassarem-na, conquistando os contratos mais lucrativos e deixando a empresa sul-coreana a lamber as feridas. Agora, a Samsung está pronta para o contra-ataque.
Num dos eventos mais importantes da indústria de semicondutores na Coreia do Sul, a SEDEX 2025, a empresa acaba de desvendar a sua arma secreta para a próxima geração: o seu primeiro chip de memória HBM4. Este não é apenas um novo produto; é uma aposta massiva, um investimento de milhares de milhões que representa a sua melhor (e talvez última) oportunidade de reconquistar a confiança do cliente mais importante do mundo – a Nvidia – e reclamar o seu trono na era da IA.
O que é a HBM4 e porque é que é a chave do reino da IA?
A memória HBM (High-Bandwidth Memory) é, neste momento, um dos componentes tecnológicos mais críticos e de maior procura do planeta. Pensa nela como uma autoestrada de informação ultra-rápida que liga a memória diretamente ao processador de IA. Ao empilhar verticalmente múltiplos chips de memória DRAM, a tecnologia HBM reduz drasticamente a distância que os dados têm de percorrer, permitindo uma largura de banda massiva, essencial para alimentar os monstros computacionais que treinam e executam os modelos de IA generativa.
A HBM4 é a sexta e mais recente geração desta tecnologia, prometendo ainda mais velocidade e capacidade do que as suas antecessoras (HBM3 e HBM3E), que equipam os atuais aceleradores de IA. Dominar a produção de HBM4 não é apenas uma questão de avanço tecnológico; é a chave para desbloquear milhares de milhões em receitas nos próximos anos.

Uma segunda oportunidade: pode a Samsung reconquistar a Nvidia?
A urgência da Samsung em apresentar o seu HBM4 é compreensível. A empresa falhou redondamente com a geração anterior, a HBM3E. Problemas de produção e de controlo de qualidade fizeram com que os seus chips não cumprissem os rigorosos padrões da Nvidia, o que levou a gigante dos processadores de IA a concentrar as suas encomendas na rival SK Hynix. Esta falha custou à Samsung não só uma enorme oportunidade de negócio, mas também um golpe significativo na sua reputação de líder tecnológica.
Agora, a corrida recomeça, e a Samsung está determinada a não repetir os erros do passado. A empresa já enviou amostras dos seus novos chips HBM4 para a Nvidia, que irá testá-los exaustivamente nas próximas semanas. Mas a Samsung não está sozinha. A SK Hynix, que também apresentou o seu próprio HBM4 na mesma feira, já estará em “conversações avançadas” com a Nvidia para garantir um contrato de fornecimento em larga escala. A Micron, a outra grande fabricante, também está na corrida.
A decisão da Nvidia, que deverá ser tomada nos próximos meses, será absolutamente crucial. Se a Samsung conseguir convencer Jensen Huang e a sua equipa de que os seus chips HBM4 são os melhores (ou, pelo menos, tão bons e fiáveis como os da concorrência), poderá garantir um contrato que lhe renderá milhares de milhões de dólares em lucro operacional a cada trimestre nos próximos anos. Se falhar novamente, o golpe será ainda mais duro.
A aposta tecnológica: o trunfo (teórico) do processo 1c
Para tentar ganhar vantagem, a Samsung está a apostar numa tecnologia de fabrico ligeiramente mais avançada. Os seus chips HBM4 foram desenvolvidos usando o seu processo DRAM de 1c (classe de 10nm de sexta geração), que é considerado superior ao processo 1b (quinta geração) utilizado pela SK Hynix.
No papel, o processo 1c oferece um potencial de maior desempenho e eficiência. No entanto, no complexo mundo dos semicondutores, a teoria nem sempre se traduz na prática. A verdadeira prova de fogo será o veredito dos testes da Nvidia, que avaliarão não só a velocidade bruta, mas também a estabilidade, o consumo de energia e, crucialmente, a capacidade de produção em massa com qualidade consistente.
Mais do que um ‘chip’, uma questão de orgulho (e de biliões)
O HBM4 não é apenas mais um produto para a Samsung; é uma questão de honra. A empresa perdeu a liderança num dos segmentos mais estratégicos da tecnologia e está a lutar com unhas e dentes para a recuperar. O sucesso do seu HBM4 é vital não só para as suas contas, mas também para restaurar a sua imagem de inovadora e líder indiscutível na tecnologia de memória.
A batalha pelos chips que irão alimentar a próxima geração de IA, como o futuro acelerador “Rubin” da Nvidia, já começou. E a Samsung acaba de colocar a sua carta mais forte na mesa. Resta saber se será suficiente para ganhar o jogo.
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