Pela primeira vez, um paciente de degeneração macular relacionada à idade — condição oftalmológica caracterizada pela degeneração da área central da retina, a mácula, que contém grande densidade de células fotorreceptoras — será tratado com células-tronco pluripotentes induzidas (iPS). Um comitê do ministério da saúde do Japão aprovou a segurança do novo método e autorizou o experimento com o paciente humano, que deve ser realizado ainda em setembro.
A tecnologia de indução de pluripotência possui grande potencial terapêutico e consiste na transformação de células adultas em células-tronco capazes de se especializar em qualquer tipo de célula do corpo, tendo rendido o Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina a seu cocriador, o biólogo Shinya Yamanaka, em 2012. (Yamanaka, que hoje dirige o Centro para Pesquisa e Aplicação de iPS em Quioto, participou da defesa do tratamento perante as autoridades de saúde japonesas.)
Sem rejeição
A oftalmologista Masayo Takahashi, do Centro RIKEN de Biologia do Desenvolvimento em Kobe (o mesmo envolvido no episódio da manipulação de dados em um estudo sobre a técnica de aquisição de pluripotência desencadeada por estímulo, outro suposto método de obtenção de células-tronco) utilizou células iPS no desenvolvimento da terapia para combater a degeneração macular, condição na qual as células fotorreceptoras da retina produzem pigmentos que ficam acumulados sobre a mácula (degeneração seca), ou quando vasos sanguíneos proliferam-se de forma anormal sob a retina e prejudicam a captação da luz na mácula (denegeração úmida), criando uma mancha central na visão e dificultando a percepção das cores, entre outros sintomas.
A doença é frequentemente associada à idade, mas suas causas — embora não tenham sido claramente identificadas — podem estar na exposição demasiada a raios ultravioleta e ao fumo, bem como à obesidade e hipertensão.
Takahashi coletou células da pele de pessoas afetadas pela doença e as transformou em células iPS convertidas, por sua vez, em células do epitélio pigmentar da retina, tecido localizado sob a mácula. A partir daí, camadas dessas células podem ser transplantadas nas retinas dos pacientes.
Estudos com macacos demonstraram que as células pluripotentes induzidas geradas a partir de células do próprio paciente não provocam rejeição quando transplantadas; além disso, a pesquisadora e sua equipe verificaram que as iPS são geneticamente estáveis, tornando improvável o surgimento de tumores a partir de possível mutações genéticas.
A imprensa japonesa espera que a técnica recém-aprovada seja empregada no RIKEN neste mês, e a equipe responsável por seu desenvolvimento pretende monitorar o paciente receptor do transplante durante um ano.
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