A segurança das comunicações globais está prestes a dar um salto significativo com uma nova tecnologia que permite aos cabos submarinos de internet “ouvir” potenciais ameaças. Desenvolvida pela empresa AP Sensing, esta inovação utiliza pulsos irregulares de luz para detetar perturbações que possam indicar tentativas de sabotagem ou danos acidentais.
O sistema baseia-se na análise de perturbações nos pulsos de luz que viajam através dos cabos de fibra ótica submarinos. Estas perturbações podem ser causadas por energia acústica, como um mergulhador a tocar no cabo ou uma âncora de navio a arrastar-se na sua direção.
Daniel Gerwig, gestor de vendas global da AP Sensing, explicou numa demonstração à BBC: “Quando um mergulhador para e toca ligeiramente no cabo, vê-se claramente o sinal. A energia acústica que viaja através da fibra perturba o nosso sinal, e podemos medir essa perturbação.”

Capacidades e limitações
Esta tecnologia inovadora oferece várias vantagens:
- Deteção de contacto físico com os cabos
- Identificação de mudanças de temperatura, que podem indicar secções desenterradas
- Estimativa aproximada do tamanho, localização e direção de navios próximos
No entanto, existem algumas limitações:
- Necessidade de estações de escuta a cada 100 km aproximadamente
- Alcance de deteção geralmente limitado a centenas de metros
- Variação na distância de deteção dependendo da energia acústica transmitida
Contexto e importância
Esta inovação surge num momento crítico, após vários incidentes recentes de sabotagem contra cabos submarinos de internet. Mais de 95% do tráfego de internet mundial viaja através destes cabos, tornando-os um alvo vulnerável e estratégico.
Muitos países europeus, a União Europeia e a NATO estão ativamente à procura de formas de detetar ataques em tempo real. A tecnologia da AP Sensing representa um avanço significativo neste esforço, oferecendo uma solução que pode ser implementada em cabos existentes, utilizando fibras “escuras” ou não utilizadas, ou canais livres em fibras ativas.
A indústria de telecomunicações e de cabos submarinos está a responder ativamente a estas ameaças. Em 2024, foi lançado o Organismo Consultivo Internacional para a Resiliência de Cabos Submarinos pela União Internacional de Telecomunicações (UIT) e pelo Comité Internacional de Proteção de Cabos (ICPC).
Esta iniciativa surge em resposta ao aumento das tensões geopolíticas e à crescente ameaça de grupos que visam os cabos submarinos, especialmente na área do Mar Vermelho.
Desafios geopolíticos
Um dos principais desafios identificados é a chamada “frota fantasma” da Rússia. Esta frota é composta por navios comerciais incógnitos que, aparentemente, estão envolvidos no comércio marítimo, mas na realidade realizam frequentemente atividades de reconhecimento, espionagem e, em alguns casos, sabotagem de cabos submarinos.
Estes navios são particularmente difíceis de rastrear devido às suas estruturas de propriedade complexas e seguros obscuros ou desconhecidos.
À medida que as ameaças aos cabos submarinos continuam a evoluir, tecnologias como a desenvolvida pela AP Sensing tornam-se cada vez mais cruciais para garantir a segurança e a estabilidade das comunicações globais. Com a crescente dependência mundial da internet para praticamente todos os aspetos da vida moderna, a proteção desta infraestrutura crítica é mais importante do que nunca.
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