Desde que as sanções impostas pelos EUA atingiram a Huawei em 2019, a gigante tecnológica chinesa não tem baixado os braços. Numa jogada estratégica para garantir a sua sobrevivência e crescimento, a empresa investiu em mais de 60 companhias chinesas do setor dos semicondutores.
O objetivo é claro: criar uma cadeia de fornecimento própria e robusta, superando assim as dificuldades de acesso a tecnologia e produtos avançados provenientes dos Estados Unidos. Prepara-te para conhecer os contornos desta impressionante contraofensiva tecnológica.

A estratégia por detrás do investimento: Hubble, o braço financeiro
Segundo informações avançadas pelo NikkeiAsia, a Huawei conseguiu realizar estes avultados investimentos através da sua subsidiária Hubble. Esta entidade, criada em 2019 — precisamente o ano em que as sanções entraram em vigor —, funciona como uma empresa de capital de risco. O seu foco de investimento tem sido direcionado para áreas cruciais como a inteligência artificial, o desenvolvimento de processadores e semicondutores, e o setor de fabrico.
Com o apoio da Hubble, a Huawei financiou mais de seis dezenas de empresas de semicondutores no seu país natal. Esta rede de parcerias visa construir uma cadeia de fornecimento autossuficiente, capaz de satisfazer as necessidades da Huawei no que diz respeito a componentes essenciais. Fontes detalham que a Huawei Hubble detém participações acionistas em mais de 50 dessas empresas.
O NikkeiAsia esclarece o papel da subsidiária: “Os seus investimentos cobrem toda a cadeia de fornecimento de semicondutores — desde o design e materiais até ao fabrico e teste — com a maioria das suas participações a permanecer abaixo dos 10%.” Esta abordagem permite à Huawei influenciar e apoiar um vasto leque de especialistas sem necessariamente assumir o controlo total das operações de cada parceiro.
Investimentos chave e a aposta em tecnologias de ponta
O relatório do NikkeiAsia destaca alguns dos investimentos realizados pela Huawei no último ano, ilustrando a aposta em tecnologias inovadoras. Um dos exemplos é a Huahai Chengke New Material, uma empresa na qual a Huawei investe desde 2021. Esta companhia dedica-se ao fabrico de materiais de encapsulamento para processadores com memória de alta largura de banda (HBM), componentes cruciais para o desempenho em aplicações de inteligência artificial e computação de alto rendimento.
No ano passado, a Huawei investiu também na Suzhou Carbon Semiconductor Technology. Esta empresa é especializada em wafers (as placas onde se fabricam os circuitos integrados) à base de nanotubos de carbono, uma tecnologia que se apresenta como superior às tradicionais wafers de silício. Esta aposta não é casual. Um relatório recente revelou que a Huawei planeia desenhar um processador de 3 nanómetros (nm) até 2026, utilizando precisamente wafers à base de carbono em vez de silício. Fica assim claro que estas empresas parceiras estão, de facto, a ajudar a gigante chinesa a construir processadores avançados para os seus futuros telemóveis e produtos de inteligência artificial.
O custo do desenvolvimento e a visão de futuro da Huawei
Naturalmente, este esforço intensivo no desenvolvimento de tecnologia de ponta tem os seus custos. Os detalhes divulgados indicam que o aumento das despesas com o desenvolvimento de processadores levou a Huawei a registar um prejuízo líquido de 56 milhões de dólares (aproximadamente 51,5 milhões de euros) no quarto trimestre de 2024. No entanto, segundo a perspetiva da própria empresa, este resultado não é encarado como um problema de fundo.
A Huawei considera que estas despesas são, na realidade, investimentos que contribuem para o crescimento e fortalecimento da companhia a longo prazo, assegurando a sua autonomia e capacidade de inovação num mercado global cada vez mais competitivo.
Outros artigos interessantes: