Vivemos uma autêntica corrida ao ouro da inteligência artificial. As empresas em todo o mundo abrem os cordões à bolsa, com uma em cada três a planear investir mais de 25 milhões de dólares em IA no próximo ano, segundo o estudo BCG AI Radar 2025. Em Portugal, o cenário não é diferente: 96 mil empresas mergulharam pela primeira vez nestas águas em 2024, o que representa um crescimento anual de 17%.
Contudo, este capital, por si só, não garante o sucesso. Muitos destes projetos, apesar de dispendiosos, não entregam o valor esperado. O retorno do investimento não está na tecnologia, mas na forma como ela é implementada e utilizada. O sucesso exige uma abordagem em duas frentes: uma estratégia empresarial sólida e uma nova forma de comunicar a nível individual.

O mapa antes da viagem
Qualquer projeto de IA bem-sucedido começa muito antes de se escolher a tecnologia; começa com uma pergunta simples: “Para quê?”. É fundamental que as equipas definam um objetivo de negócio claro e os indicadores que vão medir o seu sucesso, seja em horas de trabalho poupadas ou na precisão de uma tarefa. Sem um destino definido, qualquer caminho serve, mas raramente leva ao lucro.
Uma implementação estruturada é igualmente vital. A pressa é inimiga da perfeição, e lançar uma nova ferramenta de forma massiva pode gerar mais problemas do que soluções. A abordagem mais sensata passa por projetos-piloto em áreas controladas, permitindo testar, aprender e ajustar. Naturalmente, nada disto funciona se os dados da empresa estiverem espalhados por silos inacessíveis. A Inteligência Artificial alimenta-se de informação, e a criação de um repositório de dados centralizado é o pré-requisito técnico para que os modelos possam, de facto, gerar valor.
A peça-chave: as pessoas e a colaboração
A introdução de qualquer nova tecnologia no local de trabalho mexe com as pessoas. Não é de estranhar que 28% dos colaboradores se mostrem receosos de que a IA possa ameaçar o seu emprego, como aponta um estudo da Deloitte. Ignorar este fator humano é uma receita para o insucesso. Envolver as equipas desde o primeiro dia, com formação contínua e canais de comunicação abertos, transforma o medo em curiosidade e a resistência em adoção.
Da mesma forma, a tecnologia não pode viver isolada no departamento de TI. Uma implementação eficaz exige que se quebrem os silos entre as diferentes áreas da empresa. Líderes de TI, finanças, operações e recursos humanos precisam de trabalhar em conjunto. Afinal, como indica um relatório da SAP Concur, mais de metade dos gestores de TI vê benefícios claros em colaborar com a área financeira para definir o rumo da transformação digital.
A arte de dialogar com um algoritmo
No final da linha, para lá da estratégia e dos comités, está um colaborador a interagir com uma máquina. A eficácia desse momento define o sucesso de todo o investimento. Um algoritmo não lê nas entrelinhas. A sua utilidade depende da clareza com que o utilizador lhe “pinta” o cenário, fornecendo contexto detalhado e definindo o papel que a Inteligência Artificial deve assumir.
A interação é um diálogo, não uma ordem. A primeira resposta é quase sempre um ponto de partida, um rascunho que deve ser refinado através de pedidos sucessivos de ajuste. É esta dança entre a instrução humana e a capacidade computacional que produz os resultados mais relevantes.
Em última análise, o retorno do investimento milionário em IA não se encontra na complexidade dos seus algoritmos, mas na simplicidade de uma boa comunicação. O sucesso nasce da combinação entre uma estratégia empresarial lúcida e a capacidade humana de dialogar com estas novas ferramentas, transformando a promessa da tecnologia em valor real e palpável.
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