Os puxadores de porta retráteis, que deslizam elegantemente para fora da carroçaria com um simples toque, tornaram-se um símbolo do design minimalista e futurista dos carros elétricos. No entanto, esta tendência de design, que prometia modernidade, pode estar com os dias contados. A China, o maior mercado automóvel do mundo, prepara-se para proibir estes mecanismos a partir de julho de 2027, e o motivo é tão simples quanto preocupante: a segurança.
A decisão, que está a enviar ondas de choque por toda a indústria, baseia-se em dados preocupantes que mostram que, em caso de acidente, estes puxadores falham muito mais do que os sistemas mecânicos tradicionais. Para além disso, o número de acidentes e de ferimentos causados por estes mecanismos tem vindo a aumentar de forma alarmante.
Esta medida regulatória pode, na prática, ditar o fim dos puxadores de porta totalmente embutidos a nível global. Para os construtores, será provavelmente mais fácil e barato adotar um design universal que cumpra as novas regras chinesas do que manter duas linhas de produção diferentes. A era da estética a sobrepor-se à função pode estar a chegar ao fim, pelo menos no que toca à forma como abrimos a porta do nosso carro.
Os números assustadores por trás da decisão
A decisão dos reguladores chineses não foi tomada de ânimo leve. Está fundamentada em estatísticas que pintam um quadro muito preocupante sobre a fiabilidade destes sistemas em situações de emergência. Testes de colisão revelaram uma disparidade gritante: em impactos laterais, os puxadores de porta elétricos funcionam apenas em 67% das vezes. Em comparação, os puxadores mecânicos tradicionais têm uma taxa de sucesso de 98%. Numa situação em que cada segundo conta para sair de um veículo acidentado, esta diferença pode ser a fronteira entre a vida e a morte.
E este não é um problema meramente teórico. Os dados do mundo real corroboram os resultados dos testes. Em 2024, registou-se um aumento de 47% nos acidentes relacionados com falhas nos puxadores de porta, sendo que os puxadores ocultos foram responsáveis por uns esmagadores 82% desses casos.
Como se não bastasse o risco em acidentes, estes mecanismos também se revelaram perigosos no uso do dia a dia. A associação de consumidores chinesa registou um aumento de 132% nas queixas de ferimentos causados por entalamento dos dedos, com alguns casos a resultarem mesmo em ossos partidos. O design que prometia elegância acabou por se revelar uma fonte de frustração e, em casos mais graves, de perigo.

A desculpa da aerodinâmica que não convence
Durante anos, os construtores automóveis justificaram a adoção dos puxadores retráteis com um argumento principal: a melhoria da aerodinâmica e, consequentemente, da eficiência energética. A ideia era que, ao criar uma superfície completamente lisa, o carro cortaria o ar com menos resistência, aumentando a sua autonomia. No entanto, os números mostram que este benefício é, na melhor das hipóteses, marginal.
Os engenheiros calculam que a redução na resistência aerodinâmica é de apenas 0.01 Cd, o que se traduz numa poupança irrisória de 0,6 kWh por cada 100 quilómetros percorridos. Para piorar a situação, os motores e mecanismos necessários para fazer estes puxadores funcionar adicionam entre 7 a 8 kg de peso extra ao veículo, um acréscimo que, em muitos casos, anula por completo os ganhos de eficiência.
Se a vantagem na autonomia é questionável, a desvantagem no custo e na fiabilidade é bem real. Os puxadores elétricos chegam a custar três vezes mais do que os mecânicos e, segundo os dados, avariam oito vezes mais. Um dos principais fabricantes de veículos elétricos admitiu mesmo que os puxadores de porta avariados representam 12% de todos os seus casos de reparação. A promessa de um futuro mais eficiente acabou por se traduzir num presente mais caro e menos fiável.
O futuro é mais simples (e mais seguro)
A decisão da China não significa o fim de todos os designs modernos. A nova regulamentação não proíbe todos os puxadores que não sejam os tradicionais. O que ela exige é que qualquer sistema tenha uma redundância mecânica, ou seja, uma forma de abrir a porta que funcione mesmo que o carro perca toda a energia elétrica.
Alguns fabricantes já se estão a adaptar a esta nova realidade. A Volkswagen, por exemplo, utiliza designs semi-retrateis que mantêm uma estética moderna, mas que incluem mecanismos de segurança mecânicos. A Audi, por sua vez, está a introduzir cordas de emergência nos seus novos modelos, que permitem abrir as portas em caso de falha elétrica.
Para os consumidores, estas notícias são, na verdade, excelentes. Significam carros mais seguros, mais fiáveis e, provavelmente, mais baratos de reparar. A guerra contra os puxadores retráteis é a prova de que, por vezes, a solução mais simples é mesmo a melhor, e que a segurança deve estar sempre à frente da estética, por mais futurista que ela pareça.
Outros artigos interessantes:










