O ecossistema tecnológico português viveu um ano de paradoxos em 2025. Se, por um lado, houve motivos para abrir o champanhe com a ascensão da Tekever ao estatuto de unicórnio (empresas avaliadas em mil milhões de dólares), por outro, os sinais de alerta dispararam. O mais recente relatório “State of European Tech” revela que, enquanto os gigantes europeus estão a atrair cada vez mais capital, Portugal está a perder gás, com o investimento total em startups a recuar face ao ano anterior.
Os dados mostram uma Europa a duas velocidades: um núcleo forte que cresce e uma periferia que luta para acompanhar o ritmo, apesar de ter talento e casos de sucesso pontuais.
O sucesso da Tekever esconde uma realidade mais dura
A entrada da Tekever no clube dos unicórnios em maio foi, sem dúvida, o ponto alto do ano. Colocou Portugal no mapa como um dos 11 países capazes de produzir empresas tecnológicas de avaliação bilionária em 2025. É a prova de que a engenharia e a inovação nacional, especialmente em áreas complexas como a defesa e os drones, têm qualidade mundial.
No entanto, quando olhamos para a floresta em vez da árvore, o cenário muda. O financiamento captado pelo ecossistema português desceu dos 250 milhões de dólares em 2024 para 230 milhões este ano.
Este recuo é preocupante porque acontece num momento de expansão para os líderes. O Reino Unido disparou 22% (angariando 14 mil milhões), e a Alemanha e a Suécia também cresceram. Portugal, ao cair para a 14.ª posição do ranking, está a divergir da tendência de recuperação dos grandes mercados tecnológicos.

As barreiras invisíveis: porque é que o dinheiro não chega?
O relatório não se limita aos números; faz um diagnóstico das dores de crescimento da Europa, que se aplicam com particular força a Portugal.
- O “Pesadelo” Regulatório: Para quase 70% dos fundadores, as leis europeias são um travão, não um motor. A fragmentação do mercado (regras diferentes em cada país) e a rigidez laboral dificultam a vida a quem quer escalar rapidamente.
- Falta de Capital Próprio: A Europa tem dinheiro, mas não o investe em risco. Os fundos de pensões europeus começaram a acordar (aumentaram a alocação em 55%), mas o fosso para os EUA continua gigante.
- Conservadorismo Corporativo: Apenas 20% das grandes empresas europeias trabalham com startups, contra 50% nos EUA. Falta uma cultura de simbiose entre os “velhos” gigantes e os novos inovadores.
A esperança chama-se Inteligência Artificial
Apesar da quebra no investimento geral, há uma luz ao fundo do túnel e ela é alimentada por IA. O setor da Deep Tech e da Inteligência Artificial absorveu 36% de todo o capital de risco na Europa.
A confiança dos empreendedores mantém-se resiliente: em Portugal, 35% dos fundadores dizem estar mais otimistas do que no ano passado. A questão crucial para 2026 será se este otimismo e o sucesso da Tekever serão suficientes para inverter a tendência de queda e atrair novamente os investidores internacionais que, este ano, preferiram apostar em mercados mais consolidados.
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