O 2020 Edelman Trust Barometer, divulgado esta semana pela sua afiliada em Portugal, a EDC, revela preocupações enfatizadas pelas novas tecnologias, por parte dos inquiridos (83 por cento), tais como a possibilidade de perda de emprego para a automação, a possibilidade de recessão, a falta de formação, a concorrência estrangeira com preços mais baixos, a imigração e a economia de “gigs”.
Cinquenta e sete por cento dos inquiridos estão preocupados com a possibilidade de perder o respeito e dignidade que já tiveram no seu país. Quase dois em cada três sentem que o ritmo da evolução tecnológica é demasiado elevado. Além disso, já não há verdades universais: 76% confessam ter medo que as fake news sejam utilizadas como uma arma.
O mesmo estudo realça que, independentemente de vivermos hoje num contexto económico sólido e de beneficiarmos de taxas de empregabilidade muito elevadas, a maioria dos inquiridos nos mercados desenvolvidos não acredita que a situação melhore num espaço de cinco anos, e 56 por cento acreditam que o capitalismo na sua atual aplicação apresenta mais consequências negativas que positivas.
“Vivemos hoje um paradoxo de confiança”, disse Richard Edelman, CEO da Edelman. “Desde que criámos o estudo há 20 anos que o crescimento económico tem estado na base do aumento dos índices de confiança. Esta realidade ainda se verifica na Ásia e no Médio Oriente, mas não em mercados desenvolvidos, onde as desigualdades nos rendimentos se transformaram no fator mais importante. Os medos estão a sufocar a esperança e as assunções de longa data sobre o trabalho e a mobilidade estão a tornar-se inválidas”.
Um número recorde de países está a assistir a um recorde na divisão dos níveis de confiança na classe mais numerosa, verificando um sentimento de contaminação dos países desenvolvidos para os que estão em desenvolvimento. Globalmente, existe um gap de 14 pontos entre o público mais informado (65) e a população geral (51). Existem gaps de dois dígitos em 23 mercados, incluindo a Austrália (23), a França (21), a Arábia Saudita (21), a Alemanha (20), o Reino Unido (18) e Espanha (17).
As empresas (58 por cento) representam as instituições que beneficiam de maior confiança, assumindo o papel de liderança na governança global. As mais recentes decisões que permitiram adotar um modelo de stakeholders a multinacionais americanos, o início da Business for Inclusive Growth, focada em ordenados justos em França e a iniciativa de Business Ambition para 1.5°C testemunham a mais abrangente responsabilidade das corporações.
“As empresas estão a preencher o vazio deixado pelo populismo e pelos governos facciosos”, disse Richard Edelman. “Já não se trata de «business as usual», focado apenas na rentabilidade para os shareholders. Com 73 por cento dos colaboradores a dizerem que querem beneficiar de oportunidades para mudarem a sociedade, e quase dois terços dos consumidores a identificarem-se como compradores motivados por convicções, os CEOs compreendem que o seu mandato está a mudar”.
Os CEOs deverão assumir um papel de liderança. Noventa e dois por cento dos colaboradores referem que os CEOs devem dar a sua opinião sobre assuntos de importância, como seja o papel da formação, a utilização ética da tecnologia ou as desigualdades na remuneração. Três quartos da população geral acreditam que os CEOs devem liderar neste esforço de mudança ao invés de esperarem que esse papel seja assumido pelo governo.
“As expectativas das pessoas face às instituições levaram-nos a fazer evoluir o nosso modelo de medição dos índices de confiança”, afirmou Edelman. “A confiança é hoje ganha através de dois atributos distintos: competências (cumprir o prometido) e comportamento ético (fazer o que está certo e trabalhar para melhorar a sociedade). Já não tem apenas que ver com o que podemos fazer – trata-se também da forma como o fazemos”.
Os resultados deste ano revelam que nenhuma das quatro instituições é vista como competente e ética. As empresas são as que atingem os melhores rankings de competências, com uma grande vantagem de 54 pontos face aos governos (64% vs. 10%). As ONGs lideram em comportamento ético face a governos (vantagem de 31 pontos) e às empresas (25 pontos de vantagem). Os governos são vistos como incompetentes e com falta de ética – um resultado mais de duas vezes superior ao das empresas na proteção do ambiente e na redução das desigualdades nos rendimentos. Os meios de comunicação social são também vistos como incompetentes e sem ética: a maioria (57%) não acreditam que os media fazem um trabalho de respeito na separação de opiniões e factos, mas admitem que são um meio essencial para dar a conhecer as notícias (58%).
“Depois de acompanhar 40 empresas globais no último ano através da rede Edelman Trust Management ficámos a conhecer que os drivers éticos como a integridade, a fidelidade e o propósito são argumentos que representam 76% do capital de confiança nas empresas, enquanto que a competência representa apenas 24%”, referiu Antoine Harary, presidente da Edelman Intelligence. “A confiança está diretamente ligada a fazer o que está certo. A batalha pela confiança terá lugar no campo do comportamento ético”.
Outras conclusões do 2020 Edelman Trust Barometer:
- Tanto as empresas como os governos podem adotar passos específicos para melhorar o índice de confiança. Os inquiridos esperam que as empresas se foquem em políticas de remuneração mais justas e na formação profissional. Para os governos, as ações focam-se na redução da ideia de “governos facciosos”, nas respostas a problemas reais das comunidades e nas parceiras com as empresas e com ONGs.
- Os órgãos de governo local (54%) beneficiam de índices de confiança superiores aos dos governos centrais ou federais (51%).
- Muito embora os governos acompanhem os meios de comunicação social como as instituições com menos índice de confiança, continuam a ser os meios considerados como mais adequados para responder aos desafios de saúde (53%), de desigualdade salarial (51%), da imigração (48%), de produtos nocivos (42%) e de dificuldades de inclusão (41%).
- A tecnologia (75%) continua a ser o setor com o mais elevado nível de confiança, mas também o que acusou a maior queda global – quatro pontos. Em alguns países assistimos a quedas dramáticas, como em França (-10 pontos), Canadá (-8), Itália (-8), Singapura (-8), Rússia (-8) e EUA (-7). Além disso, a tecnologia já não é o setor que beneficia de mais confiança em 9 dos 28 países do estudo. É o caso da Austrália, Canadá, Hong Kong, Rússia, Itália, Irlanda, Singapura, Holanda e Reino Unido.
- Nenhuma instituição tem a visão de futuro que a maioria dos inquiridos partilha: nem o governo (35%), os media (35%), as empresas (41%) nem mesmo as ONGs (45%).
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