A fitoterapia, prática que utiliza plantas medicinais para fins terapêuticos, tem demonstrado potencial de crescimento no mercado global de saúde. Em 2023, o segmento foi avaliado em US$ 216,4 bilhões, com expectativa de atingir US$ 437 bilhões até 2032, segundo levantamento da Fortune Business Insights, divulgado pelo Instituto Escolhas.
Apesar de o Brasil representar uma fração pequena desse total, com faturamento de US$ 173 milhões em 2022, iniciativas tecnológicas nacionais mostram potencial para impulsionar o setor e assegurar maior segurança e eficiência no desenvolvimento e na utilização de fitoterápicos.

Um exemplo disso é o desenvolvimento do aplicativo FitoFinder por farmacêuticos do Paraná. A ferramenta gratuita permite consultas sobre doses, formas de uso, indicações terapêuticas, contraindicações e outros aspectos relacionados aos fitoterápicos disponíveis no país.
O diretor do Conselho Federal de Farmácia (CFF), Gustavo Pires, destaca a relevância de iniciativas como esta e explica que elas complementam os esforços para fundamentar as decisões farmacológicas em informações confiáveis e de qualidade.
Pires também reforça que é essencial incentivar o uso seguro desses produtos naturais, o que contribui diretamente para a promoção da saúde e para a prevenção de problemas associados à farmacoterapia. “Estamos felizes em ver propostas como esta serem apresentadas, ainda mais que é uma ferramenta de fácil acesso e que pode ser utilizada de forma gratuita pela sociedade”, acrescenta.
A fitoterapia é uma abordagem integrativa que oferece opções seguras e eficazes para o tratamento de várias condições comuns na Atenção Primária, como dispepsia, azia e outros desconfortos gástricos, segundo o CFF.
A espinheira santa (Maytenus ilicifolia Mart. ex Reissek), por exemplo, é um medicamento presente na Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (Rename), do Sistema Único de Saúde (SUS), e pode ser utilizada para dispepsias, gastrites e o tratamento coadjuvante de úlceras pépticas, conforme explica o Ministério da Saúde.
A espinheira santa é antiflamatório atua como reguladora das funções estomacais e possibilita a proteção da mucosa gástrica. Além dela, outros medicamentos fitoterápicos constam na lista, como alcachofra (Cynara scolymus L.), guaco (Mikania glomerata Spreng), aroeira (Schinus terebinthifolia Raddi), salgueiro (Salix alba L.) e hortelã (Mentha x piperita L.).
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) alerta que o consumo de qualquer fitoterápico precisa ser orientado por profissionais que conheçam a fitoterapia e que tenham autorização para indicá-los. Esta é concedida pelo Conselho representativo de casa profissão.
Plataforma auxilia pesquisadores
Outro destaque recente do setor é a plataforma InovafitoBrasil, que oferece um roteiro on-line detalhado das etapas envolvidas na pesquisa e no desenvolvimento de um fitoterápico nacional. Ela orienta os pesquisadores em cada fase do processo, desde a concepção da ideia até a comercialização do produto no mercado.
De acordo com a farmacêutica bioquímica e diretora de Biodiversidade da Associação Brasileira das Indústrias de Química Fina, Biotecnologia e suas Especialidades (Abifina), Cristina Ropke, a tecnologia reduz os riscos tecnológicos associados à pesquisa, otimiza os investimentos de cada etapa e promove uma melhor articulação entre instituições científicas e investidores.
Para Ropke, é necessário estimular a pesquisa clínica da biodiversidade brasileira. Ela destaca que o mulungu (Erythrina sp.), conhecido por suas propriedades calmantes, e o chambá (Justicia pectoralis), que tem ação expectorante, são exemplos de plantas com uso tradicional, mas sem registro na Anvisa devido à falta de dados, uma lacuna que o projeto visa preencher.
Setor de fitoterápicos ainda carece de profissionais
Apesar dos avanços tecnológicos, o setor de fitoterápicos enfrenta desafios. Entre eles, destaca-se a falta de conhecimento entre profissionais da saúde sobre fitoterápicos, conforme a farmacêutica e professora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Silvana Maria Zucolotto Langassner, em entrevista à revista Pharmacia Brasileira, do CFF.
Segundo Zucolotto, os cursos de graduação deixam de abordar o uso de plantas medicinais e fitoterápicos como opções de agente terapêutico, e muitos profissionais ainda não sabem diferenciar preparações caseiras de fitoterápicos tecnicamente elaborados. Além disso, o número de especialistas em fitoterapia ainda é insuficiente no país.
A farmacêutica destaca que o Ministério da Saúde chegou a ofertar cursos de capacitação de profissionais da saúde, como meta da Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos. Foram formados 2.700 profissionais, entre médicos e farmacêuticos, em cursos de ensino à distância e presenciais. Entretanto, a continuidade desses programas é essencial para formar recursos humanos na área.
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