A Comissão de Proteção de Informações Pessoais (PIPC) da Coreia do Sul revelou esta semana que a aplicação de inteligência artificial DeepSeek, desenvolvida por uma startup chinesa, esteve em comunicação com a ByteDance – empresa-mãe do TikTok. A descoberta ocorre após a decisão das autoridades sul-coreanas de bloquear temporariamente o download de novas instalações do serviço.
Um representante da PIPC confirmou à agência Yonhap que “detetámos trocas de informação entre os sistemas da DeepSeek e servidores da ByteDance”, embora ainda não tenha sido possível determinar “qual o tipo de dados transferidos ou a extensão desse processo”.
O que significa para os utilizadores
Embora as investigações estejam em fase inicial, especialistas identificaram riscos concretos para os cidadãos. As conversas mantidas com a inteligência artificial poderiam ser utilizadas para treinar outros modelos de Machine Learning sem autorização explícita. Informações sensíveis partilhadas durante as interações com o chatbot — como detalhes pessoais ou profissionais — estariam potencialmente expostas a vulnerabilidades técnicas ou acessos não autorizados.
Outra preocupação prende-se com a possibilidade de cruzamento destes dados com perfis de utilizadores existentes noutras plataformas digitais, criando padrões de comportamento detalhados sem o devido consentimento. A DeepSeek reagiu através de um comunicado onde admite “falhas na adaptação às leis locais de privacidade”, mas garante que “nunca partilhou dados sem autorização clara”. A empresa comprometeu-se a colaborar com as autoridades sul-coreanas.

Perguntas sem resposta
Três grandes incógnitas permanecem no centro do caso. A primeira questão prende-se com o papel exato desempenhado pela ByteDance nestas comunicações inter-sistemas. Investigadores procuram determinar se existiram mecanismos automatizados de partilha de dados entre as plataformas ou se as transferências ocorreram de forma pontual.
A terceira dúvida coloca o foco no enquadramento legal: especialistas questionam se as atuais regulamentações sobre proteção de dados são suficientes para lidar com sistemas de IA generativa que operam através de múltiplas jurisdições. A PIPC estima que as conclusões preliminares do inquérito possam ser conhecidas dentro de 30 dias, embora fontes próximas ao processo alertem para possíveis atrasos devido à complexidade técnica.
Cenário global de desconfiança
Este incidente ocorre numa altura de tensão geopolítica tecnológica:
- Estados Unidos: Restringiu o uso da DeepSeek em dispositivos governamentais
- União Europeia: Investigação em curso sobre conformidade com o RGPD
- Taiwan: Proibição total da aplicação desde março
A Coreia do Sul, que implementou em 2020 uma das legislações de proteção de dados mais rigorosas do mundo, tem sido particularmente ativa neste tipo de fiscalização. No ano passado, multou gigantes tecnológicas internacionais em mais de 60 milhões de euros por violações semelhantes.
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