A relação entre os Estados Unidos e a China enfrenta mais um capítulo de atrito, com a possível imposição de restrições a modelos de inteligência artificial desenvolvidos por empresas chinesas. Esta decisão surge após uma série de medidas similares contra gigantes como a Huawei e o TikTok, num movimento que Pequim classifica como “obstáculo ao progresso digital global”.
Diplomacia em modo de confronto
Num discurso inflamado durante uma conferência de imprensa em Nova Iorque, Fu Cong – representante permanente da China nas Nações Unidas — questionou a estratégia norte-americana: “De Huawei a TikTok, e agora ao DeepSeek: quantas proibições faltam? Precisamos de cooperação, não de barreiras”. O diplomata destacou que as sanções prejudicam as relações comerciais e impedem a redução da divisão digital entre países desenvolvidos e em desenvolvimento.
A intervenção ocorre no contexto dos planos do governo dos EUA para limitar o acesso aos modelos DeepSeek R1 e V3, sistemas de linguagem que superaram rivais internacionais em benchmarks técnicos. A iniciativa inclui:
- Projeto de lei do senador Josh Hawley para bloquear investimentos em empresas chinesas de IA
- Restrições da NASA e da Marinha norte-americana ao uso destas tecnologias
- Preocupações com segurança de dados, alegadas pelas autoridades dos EUA
Zhou Hongyi, fundador do grupo 360 Security, interpreta estas ações como sintoma de “medo do potencial chinês”: “O DeepSeek pode remodelar o ecossistema global de IA, ameaçando a hegemonia tecnológica ocidental”. Em declarações ao Global Times, o empresário contrastou o modelo de código aberto da startup chinesa com as abordagens mais fechadas de empresas como a OpenAI.

O duelo pela supremacia tecnológica
Analistas identificam três vetores principais neste conflito:
- Segurança nacional: As autoridades norte-americanas temem que a sofisticação dos algoritmos chineses permita acesso a dados sensíveis
- Competitividade económica: A capacidade do DeepSeek em ultrapassar concorrentes internacionais coloca em risco a liderança dos EUA no setor
- Influência geopolítica: O controlo sobre padrões tecnológicos emergentes determina o poder de moldar regulamentações globais
O setor privado chinês responde com resiliência. A Huawei, por exemplo, registou crescimento de 64% nas vendas de smartphones no primeiro trimestre de 2024, apesar das sanções. Já o DeepSeek anunciou parcerias com 15 universidades africanas para formação em inteligência artificial, estratégia que alinha com a visão diplomática de Pequim para o “Sul Global”.
Impactos no cenário internacional
Esta escalada ocorre quando a União Europeia debate a sua própria regulamentação para IA. Especialistas apontam riscos de fragmentação tecnológica:
- Empresas multinacionais enfrentam custos adicionais para cumprir normas conflituosas
- Pesquisadores alertam para a duplicação de esforços em frameworks de segurança
- Organizações não governamentais pressionam por padrões éticos universais
Num relatório recente, o Fórum Económico Mundial estimou que a desaceleração na cooperação sino-americana em IA pode custar até 7,8 biliões de dólares à economia global até 2030. O documento recomenda a criação de canais de diálogo técnico para evitar a “balcanização” tecnológica.
Enquanto isso, pequenas economias seguem o impasse com preocupação. “Não podemos permitir que a rivalidade entre potências nos force a escolher lados na revolução digital”, afirmou o ministro das Tecnologias de Singapura durante o Fórum de Segurança Cibernética de Kuala Lumpur. O comentário reflete um sentimento crescente entre países neutros, ansiosos por manter acesso às melhores inovações de ambos os blocos.
O próximo movimento cabe a Washington, onde o Congresso debate prazos e alcance das novas restrições. Enquanto isso, Pequim reforça os seus investimentos em parques tecnológicos e programas de atração de talentos internacionais, numa clara aposta na continuidade da corrida pela liderança em inteligência artificial.
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