Na madrugada de hoje, o céu do sul do Texas iluminou-se com a ascensão do Starship, o maior e mais potente foguetão alguma vez construído. A SpaceX, de Elon Musk, completou com sucesso o seu 11º voo de teste, atingindo todos os objetivos principais da missão. Na sala de controlo, os engenheiros celebravam mais uma vitória. Em Washington, no entanto, a celebração é acompanhada por uma ansiedade crescente.
Cada voo bem-sucedido da Starship é um passo vital para o futuro da exploração espacial, mas a grande questão que paira sobre o projeto é: estará a SpaceX a avançar suficientemente rápido? Com a China a acelerar o seu próprio programa lunar, vozes influentes nos Estados Unidos temem que, apesar de sucessos como o de hoje, a América esteja a caminho de perder a nova corrida à Lua.
O que aconteceu neste 11º voo de teste?
O lançamento, que ocorreu às 00:25 (hora de Lisboa), foi, do ponto de vista técnico, um sucesso retumbante. O gigantesco propulsor Super Heavy impulsionou a nave Starship para fora da atmosfera e, depois da separação, realizou uma descida controlada e amarou suavemente no Golfo do México, tal como planeado.
A nave Starship continuou a sua jornada, percorrendo metade do diâmetro do planeta numa trajetória suborbital, antes de reentrar na atmosfera e fazer a sua própria descida controlada em direção ao Oceano Índico, onde se despenhou como previsto, uma vez que a recuperação da nave ainda não é um objetivo nesta fase de testes.
Este voo incluiu também uma experiência audaciosa por parte da SpaceX: a empresa removeu um “número significativo de peças” do veículo para testar os limites das áreas mais vulneráveis durante a reentrada, uma abordagem de “aprender depressa” que é característica da filosofia de desenvolvimento da empresa.

O peso do mundo (e da NASA) nos ombros da Starship
O objetivo final da Starship é criar o primeiro sistema de transporte espacial totalmente reutilizável, uma “companhia aérea” para o espaço que promete reduzir drasticamente os custos e tornar possíveis as viagens a Marte. No entanto, a sua missão mais imediata e urgente é outra: servir de módulo de aterragem lunar para o programa Artemis da NASA.
Sem a Starship, o plano da agência espacial norte-americana para levar astronautas de volta à superfície da Lua simplesmente não existe. O administrador interino da NASA, Sean Duffy, apressou-se a elogiar o sucesso do teste como “mais um grande passo para levar norte-americanos ao polo sul da Lua”. Mas, nos corredores do poder, a paciência está a esgotar-se.
O “fantasma” da China e a nova corrida espacial
O próprio Elon Musk admite que ainda existem “milhares de desafios técnicos” pela frente, o que torna os prazos originais (chegar à Lua em 2027) cada vez mais irreais. E a China não está à espera.
Esta demora tem soado os alarmes em Washington. Num artigo de opinião recente, três antigos altos funcionários da NASA alertaram de forma contundente: “Estamos prestes a perder a Lua”. Um painel de especialistas independentes estimou que a versão lunar da Starship poderá estar “anos atrasada”.
O aviso mais grave veio talvez do antigo administrador da NASA, Jim Bridenstine, que, perante uma comissão do Senado, declarou: “É altamente improvável que cheguemos à Lua antes da China”, instando o governo a desenvolver um “Plano B”.
Este sentimento de urgência é amplificado pelo Presidente Donald Trump, que já se refere abertamente a “uma segunda corrida espacial”, evocando a rivalidade da Guerra Fria com a União Soviética. Cada teste da Starship deixou, assim, de ser apenas um marco de engenharia para a SpaceX; tornou-se um barómetro da capacidade da América de manter a sua supremacia na exploração espacial.
O sucesso de hoje é uma prova de que o progresso é real e impressionante. Mas, perante o avanço rápido e metódico do programa espacial chinês, a questão que fica no ar é se este progresso, passo a passo, será suficiente para chegar à meta em primeiro lugar.
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