Em 2013, uma criança do Mississippi, nos Estados Unidos, foi considerada “curada” do HIV e aumentou as esperanças de pesquisadores em relação ao controle funcional da infecção. Agora, novos exames constataram o reaparecimento do vírus no organismo da menina que, prestes a completar seu quarto aniversário, voltará a passar pela terapia antirretroviral.
O “bebê do Mississipi”, como ficou conhecida a criança, nasceu de uma mãe soropositiva que não foi submetida ao tratamento com drogas antirretrovirais durante a fase pré-natal, procedimento que, sabe-se, evita o contágio do HIV pelo feto. Então, os médicos iniciaram o tratamento do bebê menos de 30 horas após o nascimento, e o mantiveram — com doses de drogas acima das consideradas normais para uma pessoa daquela idade — até o 18º mês de vida da criança, quando a família pediu para que a terapia fosse interrompida. Dez meses depois, exames não encontraram sinais do vírus no sangue da menina, para a surpresa dos médicos.
Embora não se pudesse comprovar a completa ausência de traços do vírus no organismo da criança, os pesquisadores apontaram a possibilidade de que ela houvera conseguido o controle funcional do HIV, ou seja, um controle sobre o vírus capaz de manter o sistema imunológico sadio após o fim do tratamento com medicamentos.
No entanto, na semana passada, um novo estudo confirmou a volta do vírus à corrente sanguínea, representando um grande revés na expectativa de que outras crianças, nascidas em condições similares, obtivessem a cura da infecção a partir do mesmo tratamento.
Para a pediatra Hannah Gay, especialista em HIV do Centro Médico do Mississippi, que tratou a criança, a nova conclusão foi como “um soco no estômago”. A possibilidade de que o bebê estivesse curado havia feito com que autoridades de saúde dos Estados Unidos considerassem o financiamento público de experimentos com a finalidade de reproduzir os resultados do Mississippi em outras crianças. Em meio às novas descobertas, esses experimentos serão cuidadosamente avaliados, embora não estejam descartados, afirma Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas em Maryland (EUA).
A descoberta do ressurgimento do vírus veio após um exame de monitoramento — realizado a cada seis ou oito semanas — ter dado indícios, na semana passada, de queda na quantidade das células imunológicas conhecidas como linfócitos CD4+. Dias depois, testes de HIV revelaram a presença do vírus, cuja sequência genética correspondeu à do vírus extraído da mãe da menina dois anos antes.
O resultado recente levou os médicos a reiniciarem imediatamente a terapia antirretroviral, e os linfócitos da criança dão sinais de recuperação, segundo Gay.
Ainda não se sabe como o vírus voltou a se proliferar no organismo, nem como (e onde) ele se escondeu nos exames anteriores, mas a trajetória da menina fornece aos pesquisadores importantes noções a respeito do controle do HIV, inclusive a de que um tratamento precoce e agressivo pode reduzir fortemente a presença do vírus nos organismos dos recém-nascidos, de acordo com Deborah Persaud, virologista do Centro Infantil Johns Hopkins, em Maryland, que esteve envolvida no novo estudo.
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