O primeiro-ministro canadiano, Justin Trudeau, confirmou este sábado a imposição de tarifas de 25% sobre cerca de 155 mil milhões de dólares em produtos dos Estados Unidos. A decisão surge em resposta às taxas de 25% aplicadas pela administração Trump a bens canadianos, incluindo um imposto de 10% sobre produtos energéticos. Segundo Trudeau, a medida visa defender os interesses económicos do país sem agravar desproporcionalmente setores específicos.
As novas tarifas entrarão em vigor em duas fases: 30 mil milhões de dólares a partir desta terça-feira (coincidindo com a aplicação das taxas norte-americanas), e os restantes 125 mil milhões após 21 dias.

Bens sujeitos a taxas incluem desde sumos a materiais de construção
A lista de produtos afetados pela retaliação canadiana abrange:
- Bebidas alcoólicas (como whisky e vinho)
- Sumo de laranja
- Vestuário e têxteis
- Eletrodomésticos
- Madeira e plásticos
Trudeau descreveu a seleção como “abrangente” e prometeu atualizações caso a escalada comercial prossiga. “Procuramos equilíbrio: proteger os cidadãos sem prejudicar setores estratégicos”, afirmou, referindo-se à decisão de excluir petróleo e gás das tarifas imediatas.
Impacto bilateral pode estender-se além das fronteiras
Durante a conferência de imprensa, o líder canadiano alertou que as medidas norte-americanas “prejudicarão ambas as economias”, com efeitos particularmente severos na indústria automóvel — setor altamente integrado entre os dois países. “Milionários de Wall Street podem não sentir, mas trabalhadores no Michigan ou no Ohio sentirão”, sublinhou.
A justificação original de Trump para as tarifas centra-se no combate ao tráfico de fentanil, um opioide sintético. Contudo, analistas políticos questionam a ligação direta entre taxas alfandegárias e controlo de drogas.
Washington tenta evitar contra-ataques sem sucesso
Documentos citados pelo The Wall Street Journal revelam cláusulas nas novas tarifas norte-americanas que preveem penalizações adicionais caso os países afetados retaliem. Ottawa, no entanto, ignorou a ameaça. “Estas tarifas são duras, mas proporcionais”, justificou Trudeau.
Paralelamente às medidas comerciais, o Canadá avalia revisões em políticas de compras públicas e restrições não tarifárias. Uma redução nas exportações de energia para os EUA está em análise, mas exige “cautela extrema” para não sobrecarregar regiões específicas.
Produtos simbólicos na linha da frente
A lista de retaliação inclui itens como o sumo de laranja, cujo valor comercial é mínimo (menos de 0,1% do comércio bilateral), mas que ganha relevância simbólica. Esta escolha reflete a estratégia de Ottawa em selecionar bens com impacto político e mediático, sem afetar significativamente a economia doméstica.
Para os EUA, a imposição de taxas sobre produtos como madeira e plásticos poderá gerar perdas em estados produtores. Do lado canadiano, aumento de preços em setores como o alimentar ou têxtil é uma possibilidade real, embora o governo prometa monitorizar efeitos colaterais.
As relações comerciais entre os dois países entram numa fase crítica. A segunda fase de tarifas canadianas, programada para daqui a três semanas, poderá coincidir com eventos diplomáticos internacionais, intensificando a pressão para negociações. Enquanto isso, ambos os lados mantêm retórica firme, sem excluir diálogo futuro.
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