A Fairphone, conhecida pelos seus dispositivos eletrónicos sustentáveis, enfrenta críticas após duas falhas consecutivas que expuseram dados de utilizadores envolvidos em testes de produtos.
O incidente ocorreu numa fase crítica: a empresa prepara-se para expandir a sua presença no mercado de wearables após o lançamento dos auscultadores Fairbuds em 2024.
Como um formulário online colocou informações em risco
Tudo começou com um inquérito destinado a participantes do programa beta da marca. De acordo com um comunicado partilhado no fórum oficial, um formulário mal configurado no site da Fairphone permitiu que dados sensíveis ficassem visíveis para outros utilizadores. Entre as informações expostas estavam:
- Nomes completos
- Moradas residenciais
- Detalhes sobre modelos de telemóveis utilizados
- Endereços de e-mail e operadoras de telecomunicações
- Números IMEI dos dispositivos
O problema foi detetado a 4 de março, às 16:00, e corrigido de imediato. A empresa garantiu que apenas 24 pessoas foram afetadas e que não há indícios de acesso externo aos dados.

O erro que transformou a solução num novo problema
Na tentativa de notificar os participantes, a equipa da Fairphone cometeu um segundo deslize: usou a função “responder a todos” num e-mail dirigido ao grupo. Esta ação expôs os endereços eletrónicos de todos os envolvidos, duplicando inadvertidamente a fuga de informações.
Na secção de comentários do fórum, um utilizador descreveu o episódio como “um erro de principiante”, questionando os protocolos de segurança da empresa. Outros participantes expressaram preocupação com possíveis tentativas de phishing ou burlas utilizando os dados comprometidos.
Medidas de contenção e críticas à transparência
Num e-mail enviado aos afetados, a Fairphone recomendou:
- Verificação regular de atividade suspeita nas contas pessoais
- Desconfiar de links inesperados ou pedidos de informação confidencial
- Relatar mensagens potencialmente maliciosas
Apesar das garantias de que “incidentes semelhantes não se repetirão”, utilizadores destacaram contradições no discurso oficial. “Se afirmam que só 24 pessoas viram os dados, como explicam o segundo vazamento via e-mail?”, questionou um membro da comunidade.
Um teste de resistência para a reputação da marca
Este não é o primeiro desafio operacional da Fairphone em 2024. A empresa, que planeia alargar a distribuição global dos seus produtos, já tinha enfrentado atrasos logísticos na entrega dos Fairbuds devido à alta procura.
Especialistas em proteção de dados destacam três lições fundamentais do caso:
- A importância de testes rigorosos em ferramentas de recolha de informação
- A necessidade de formar equipas em procedimentos de comunicação de emergência
- Os riscos de subestimar a complexidade da gestão de comunidades beta
A Fairphone mantém-se silenciosa sobre compensações aos afetados, limitando-se a pedir desculpas públicas. Enquanto isso, o incidente serve de alerta para outras marcas que dependem de programas de teste com utilizadores reais. Num mercado onde a sustentabilidade é tanto uma bandeira quanto um fardo de expectativas, falhas em segurança digital podem manchar anos de esforços ecológicos.
Outros artigos interessantes: