O processo movido pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos (DOJ) contra a Google LLC, focado na posição dominante da empresa no mercado de motores de busca, gera implicações para outros intervenientes do setor tecnológico.
Uma das consequências indiretas poderá afetar a sustentabilidade do navegador Firefox, desenvolvido pela organização sem fins lucrativos Mozilla.

A preocupação reside nas propostas do DOJ para remediar a alegada falta de concorrência, que incluem a proibição de acordos financeiros para definir motores de busca pré-instalados.
Eric Muhlheim, diretor financeiro da Mozilla, alertou que tal medida pode comprometer a viabilidade financeira do Firefox, um dos poucos navegadores independentes remanescentes.
Dependência financeira e acordos
A Mozilla depende significativamente de um acordo comercial com a Google. Anualmente, a Google paga entre 400 e 450 milhões de dólares à Mozilla para ser o motor de busca padrão no Firefox, um valor que corresponde a cerca de 85% das receitas totais da organização.
Este contrato foi renovado em 2021 por um período de três anos, totalizando aproximadamente 1,2 mil milhões de dólares.
Sem estes fundos, a capacidade da Mozilla para investir no desenvolvimento do Firefox ficaria reduzida. Áreas como a privacidade do utilizador, acessibilidade e a manutenção do motor de renderização Gecko seriam afetadas.
Diferente de empresas como Apple ou Microsoft, que possuem ecossistemas diversificados (sistemas operativos, dispositivos) capazes de subsidiar os seus navegadores, a Mozilla carece de fontes alternativas de receita em escala similar.
Implicações para a inovação
O Firefox distingue-se da maioria dos navegadores concorrentes por utilizar o seu próprio motor de renderização, o Gecko, em vez de depender das bases de código Chromium (Google) ou WebKit (Apple).
Esta independência tecnológica permite à Mozilla implementar funcionalidades próprias, como a Proteção Total Contra Cookies (Total Cookie Protection), que visa bloquear o rastreamento entre sites. A potencial perda de receita ameaça diretamente o desenvolvimento contínuo do Gecko.
Segundo Eric Muhlheim, tentativas anteriores de substituir a Google por outros fornecedores de busca, como Bing ou Yahoo, resultaram em diminuição do número de utilizadores e da receita.
A Mozilla argumenta que a solução para promover a concorrência não passa pela eliminação destes acordos, mas sim por assegurar que os utilizadores possam escolher e alterar facilmente o seu motor de busca preferido, uma funcionalidade que o Firefox já disponibiliza.
Conclusão
O caso U.S. v. Google LLC expõe um potencial conflito: as medidas desenhadas para limitar o domínio da Google no mercado de pesquisa podem, eventualmente, prejudicar um concorrente independente como o Firefox.
A confirmar-se a proibição dos acordos de pesquisa, o cenário poderá levar a uma maior concentração do mercado de navegadores em torno de Chrome, Safari e Edge, reduzindo a diversidade tecnológica na web.
Vale lembrar que, recentemente, o Departamento de Justiça dos Estados Unidos (DoJ) requereu formalmente a um tribunal federal que ordene a venda de componentes chave do negócio de tecnologia de publicidade online da Google.
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