Você já deve ter ouvido falar que nós conhecemos melhor a superfície de Marte do que o fundo dos oceanos da Terra. Agora, um novo mapeamento gravitacional do leito dos oceanos apresentou características inéditas — e surpreendentes — aos cientistas e pode mudar radicalmente nossa visão desse ambiente “escondido” aos nossos olhos.
Uma equipe internacional de pesquisadores liderada pelo oceanógrafo David Sandwell, do Instituto Scripps de Oceanografia em La Jolla, Califórnia, utilizou dados de dois satélites (CryoSat-2, da Agência Espacial Europeia, e Jason-1, parceria entre a NASA e a agência espacial francesa) para confeccionar um modelo gravitacional detalhado do leito oceânico, que poderá ser utilizado por equipes de exploração científica e econômica do potencial do fundo dos oceanos.
Os dois satélites empregados na missão de mapeamento possuíam altímetros, instrumentos capazes de medir a distância entre o satélite e a superfície rochosa dos continentes e ilhas, ou a superfície líquida, no caso dos oceanos. A partir da mensuração de pequenas variações no nível da superfície dos oceanos e da subtração dos efeitos temporários das ondas, por exemplo, a equipe descobriu como o oceano responde à força gravitacional de características do relevo do leito oceânico, como cadeias montanhosas e vulcões.
O mapa global gerado é o mais preciso já criado (até duas vezes mais preciso do que os melhores mapas atuais), e sua eficiência permitiu aos pesquisadores identificar cerca de 20 mil montes submarinos — com até 2 quilômetros de altura — previamente desconhecidos. Os resultados serão publicados na edição de 3 de outubro da revista Science.
Para Joanne Whittaker, pesquisadora da Universidade da Tasmânia, na Austrália, os geólogos poderão usar o mapa para reconstruir o movimento da crosta oceânica, camada de rocha que forma o fundo das bacias oceânicas. A própria Whittaker pretende utilizá-lo no planejamento de futuras expedições científicas no Oceano Índico a bordo do mais novo navio de pesquisa australiano, com o objetivo de estudar possíveis fragmentos de relevo deixados por um continente extinto.
Já as companhias de petróleo e gás podem enxergar oportunidades no novo mapa, tendo uma delas, a ConocoPhillips (com sede no Texas), patrocinado o trabalho de Sandwell. A procura por novos poços de exploração geralmente envolve as margens continentais nas quais o leito do mar é relativamente plano sob espessas camadas de sedimentos. O mapa gravitacional torna possível localizar as bacias de sedimentos nas quais os combustíveis fósseis podem se acumular.
Entretanto, o oceanógrafo ressalta que a resolução promovida pelo mapeamento gravitacional não é suficiente para revelar características de, digamos, 100 metros de comprimento e/ou altura, o que ainda requer o emprego de sonares embarcados em navios, disparando ondas sonoras posteriormente captadas por instrumentos e, assim, medindo a distância entre a embarcação e o leito oceânico.
A vantagem dos satélites é a de eles passarem sobre os oceanos diversas vezes ao dia. O satélite CryoSat-2 permanecerá ativo por mais três anos, tempo no qual Sandwell e sua equipe poderão aprimorar o mapa com o recebimento de mais dados.
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