O regulador britânico da concorrência soou o alarme sobre a crescente influência das Big Tech no mercado da inteligência artificial (IA) de última geração. Sarah Cardell, diretora-geral da Competition and Markets Authority (CMA), manifestou “reais preocupações” sobre o rumo que o setor está a tomar.
Numa atualização dedicada aos modelos de IA mais avançados, publicada na última quinta-feira, a CMA avisou sobre a crescente interligação dos gigantes tecnológicos. Este cenário, diz a CMA, acaba por limitar a competitividade do setor responsável pelo sucesso explosivo das ferramentas generativas de IA.
Os perigos do monopólio da Inteligência Artificial
O documento da CMA destaca a presença constante da Google, Amazon, Microsoft, Meta e Apple (apelidadas de GAMMA) em toda a cadeia de valor da inteligência artificial: computação, dados, desenvolvimento de modelos, parcerias, lançamento e plataformas de distribuição. E embora a entidade reconheça que as parcerias “podem ter um papel positivo no ecossistema tecnológico”, também adverte que as colaborações entre empresas poderosas podem representar riscos que atentam contra os princípios da livre concorrência.
“Estamos preocupados com o facto de que o setor de modelos avançados de IA esteja a desenvolver-se de uma forma que pode trazer consequências negativas ao mercado”, escreve a CMA. “Em particular, a omnipresença de um pequeno grupo de importantes empresas tecnológicas, que já detêm posições de poder em muitos dos mercados digitais mais relevantes hoje em dia, poderá moldar de forma negativa os mercados relacionados com a IA. Isto acaba por prejudicar a concorrência leal e aberta, com efeitos nocivos sobre empresas e consumidores, por exemplo, reduzindo a escolha e a qualidade, bem como aumentando os preços”, avisa.
Mercado de Inteligência Artificial precisa de regulamentação
Em maio do ano passado, a CMA iniciou uma análise preliminar ao mercado da IA, tendo publicado um conjunto de princípios para um desenvolvimento “responsável” da IA generativa. No entanto, segundo palavras de Will Hayter, diretor sénior da Unidade de Mercados Digitais da CMA, a entidade não tinha pressa em regular a inteligência artificial de ponta porque pretendia permitir que o mercado tivesse oportunidade de evoluir.
Desde então, porém, o ritmo das mudanças impôs-se. O regulador do mercado já está envolvido no escrutínio do relacionamento entre a OpenAI, que desenvolveu o popular chatbot ChatGPT, e a Microsoft, um dos principais investidores da OpenAI. As constantes inovações mostram que a CMA está a repensar a sua posição mais descontraída sobre o mercado da IA generativa, preocupada com o frenesim comercial que está a drenar recursos na área.
Riscos da concentração do mercado
A CMA identifica três “principais riscos interligados à concorrência leal, efetiva e aberta”, todos eles ligados à omnipresença das GAMMA: 1) Empresas controlam “insumos críticos” essenciais ao desenvolvimento dos modelos mais avançados de IA, algo que lhes permite restringir o acesso e criar fossos para dificultar a concorrência; 2) As Big Tech exploram posições dominantes em mercados orientados para consumidores ou outras empresas, limitando a oferta de serviços baseados na IA generativa e sufocando a concorrência; 3) As parcerias entre as grandes empresas agravam as suas posições de poder ao longo de toda a cadeia de produção da IA.
Num discurso em Washington D.C., num evento jurídico dedicado à IA generativa, Cardell falou sobre as dinâmicas “em que o vencedor leva tudo”. Esta situação, disse a diretora da CMA, tem paralelos com os primórdios da era da internet, quando as Big Tech construíram os seus impérios sem o escrutínio dos reguladores do mercado. É importante, afirmou, que não se repitam os mesmos erros com a próxima geração do mundo digital.
Necessidade de proteger a concorrência
“Os benefícios que queremos ver com a inteligência artificial de ponta — ao nível da qualidade, escolha e preço para empresas e consumidores, bem como as inovações mais criativas – são muito mais prováveis num cenário em que essas mesmas empresas estão sujeitas a uma concorrência justa, aberta e eficaz. Não podemos repetir a trajetória que permitiu que aproveitassem os modelos de base para consolidar e alargar as suas posições de poder nos mercados digitais”, diz Cardell. “Acreditamos que é importante agirmos agora para garantir que um pequeno número de empresas com enorme poder de mercado não acabem numa posição em que controlam não apenas como os modelos mais avançados são construídos e desenvolvidos, mas também como se aplicam em todas as áreas da nossa economia e das nossas vidas.”
Espera-se que a CMA intervenha mais ativamente no mercado da Inteligência Artificial. No entanto, ainda não foram anunciadas medidas concretas. Cardell mencionou que a CMA está a seguir as parcerias das GAMMA e poderá passar a analisar se alguma destas relações se enquadra nas leis anti-monopólio existentes. Isso daria à CMA poderes de investigação, e até mesmo a capacidade de bloquear parcerias consideradas anti-competitivas.
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