Informações coletadas pela Agência Espacial Europeia (ESA) sugerem que a força do campo magnético da Terra esteja em rápida transformação, processo que pode estar atrelado à inversão dos polos magnéticos do planeta.
Os dados apurados pela missão Swarm, composta por três satélites, indicam que os maiores pontos fracos da proteção do campo magnético têm se expandido no Hemisfério Ocidental, ao passo que o campo foi intensificado em outras áreas como, por exemplo, o sul do Oceano Índico (veja a imagem acima). Os cientistas ainda não estão certos quando à razão de o campo magnético estar, em média, enfraquecendo-se, mas a principal suspeita é a inversão dos polos magnéticos — que pode estar prestes a ocorrer.
A missão Swarm recolhe sinais vindos tanto do próprio campo magnético quanto do núcleo e manto terrestres, bem como da crosta e dos oceanos do planeta, com a missão de criar modelos do campo geomagnético que nos permitam identificar fenômenos que ocorrem no interior da Terra e aprofundar o conhecimento a respeito do enfraquecimento do campo e dos riscos consequentemente impostos pela radiação solar. Ademais, a rede de satélites (imagem abaixo) pode ser aproveitada para a criação de sistemas de navegação magneticamente orientados mais eficazes, para apontar regiões ricas em recursos minerais e, até mesmo, para aprimorar a previsão de terremotos, uma vez que, acreditam os cientistas, as flutuações no campo magnético podem ajudar a identificar pontos onde as placas continentais estão em movimento.
Escudo geomagnético
O campo magnético da Terra é gerado pelo movimento do metal derretido que envolve o núcleo sólido do planeta. Tal movimento, por sua vez, é provocado por mudanças na temperatura do núcleo sólido e pela própria rotação do planeta. Assim, dizer que houve um fortalecimento (enfraquecimento) do campo magnético em determinada região do globo significa dizer que o fluxo de material no núcleo externo — líquido — abaixo desta região intensificou-se (reduziu-se), de acordo com Rune Floberghagen, diretor da missão Swarm da ESA.
A preocupação com o rumo tomado pelo campo magnético e os estudos realizados se justificam quando se tem em mente a função de escudo geomagnético do campo, protegendo-nos da radiação cósmica emitida, principalmente, pelo Sol, sob a forma de ventos solares. Podemos observar esse fenômeno através da beleza das auroras boreal e austral: partículas eletricamente carregadas (íons) emitidas pelo Sol são capturadas pelo campo magnético —um ímã gigantesco — e aceleradas em direção à Terra nos polos; as colisões entre essas partículas e os átomos da atmosfera liberam energia luminosa (fótons), e eis o brilho da aurora.
Os primeiros resultados da Swarm, revelados em conferência na Dinamarca, no dia 19 de junho, sugerem que o norte magnético (em termos práticos, a direção norte para a qual aponta a agulha de uma bússola) já esteja se movendo para a Sibéria. Ao portal LiveScience, Floberghagen disse que inversões completas dos polos magnéticos não são instantâneas, mas levariam “muitas centenas, senão alguns milhares de anos”, e que já acontecerem “muitas vezes no passado”.
Estima-se que os polos magnéticos se invertam uma vez dentro de algumas centenas de milhares de anos, de forma que uma bússola passaria a apontar o sul geográfico como o norte magnético na próxima alteração. As variações na força do campo magnético terrestre fazem parte do processo natural de inversão, entretanto, as observações da missão Swarm mostraram que a força do campo está diminuindo em cerca de 5 por cento a cada década, velocidade dez vezes superior à verificada em estudos prévios, de 5 por cento ao século.
Portanto, a inversão completa, prevista para ocorrer em cerca de 2.000 anos, poderá estar muito mais próxima, e uma nova coleta de dados dos satélites Swarm deve nos fornecer pistas quanto ao motivo de o enfraquecimento do campo ser atualmente mais rápido.
Ainda não existem evidências de que um campo magnético mais fraco ocasionaria o fim da vida na Terra; de fato, as inversões polares anteriores não resultaram em extinções em massa, por exemplo. No entanto, redes de transmissão de eletricidade, sistemas de comunicação e astronautas em órbita correm um risco significativo, conforme costumam salientar os cientistas.
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