Se tens um iPhone e vives no Brasil, ou se simplesmente acompanhas as novidades do mundo da tecnologia, prepara-te para uma mudança que pode estar para breve. A Apple recebeu um prazo de 90 dias para permitir a instalação de aplicações nos seus iPhones através de fontes externas à App Store oficial, uma prática conhecida como sideloading. Esta decisão representa mais um desafio judicial para a gigante de Cupertino, desta vez em solo brasileiro, e promete agitar o ecossistema iOS como o conheces.
A justiça brasileira aperta o cerco à Apple
A mais recente reviravolta neste caso aconteceu quando um tribunal federal brasileiro decidiu reverter uma suspensão temporária que a Apple tinha conseguido obter. Anteriormente, uma decisão judicial já obrigava a empresa a abrir o iOS ao sideloading, mas a Apple recorreu e viu a aplicação da medida ser adiada. No entanto, essa vitória foi efémera. A nova deliberação não só anulou essa suspensão como restabeleceu o prazo original de 90 dias para que a Apple cumpra a ordem e modifique o seu sistema operativo para permitir esta funcionalidade no Brasil.
Esta situação no Brasil surge num momento delicado para a Apple, que recentemente também enfrentou um revés importante nos Estados Unidos. Num processo movido pela Epic Games, a criadora do Fortnite, a justiça norte-americana determinou a eliminação de restrições que a Apple impunha aos pagamentos realizados fora do seu sistema de comissões da App Store, abrindo um precedente importante.
Como tudo começou: a queixa que despoletou a mudança
A origem desta batalha judicial no Brasil remonta a 2023, quando a MercadoLibre, uma conhecida empresa de comércio eletrónico na América Latina, apresentou uma queixa formal. Esta queixa levou o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE), a autoridade da concorrência brasileira, a investigar as práticas da Apple. O CADE considerou ilegais as regras da App Store que impediam os programadores de direcionar os utilizadores para métodos de pagamento alternativos, fora do controlo e das comissões da Apple.
Consequentemente, a empresa foi inicialmente obrigada a permitir alternativas não só para os pagamentos, mas também para a distribuição de aplicações. A Apple, como é seu apanágio nestas situações, recorreu da decisão, argumentando a seu favor, mas este último desenvolvimento judicial indica que a pressão para a abertura do seu ecossistema está a aumentar consideravelmente no país.
O que significa o sideloading para ti e para o teu iPhone
Mas afinal, o que é o sideloading e o que pode mudar para ti, enquanto utilizador de iPhone no Brasil? De forma simples, o sideloading é a capacidade de instalar aplicações no teu dispositivo diretamente a partir de ficheiros de instalação ou de lojas de aplicações alternativas, contornando a App Store oficial da Apple. Isto poderia significar acesso a uma maior variedade de aplicações, potencialmente a preços diferentes ou com funcionalidades não permitidas pelas diretrizes da Apple.
Para os programadores, poderia representar maior liberdade na distribuição e monetização das suas criações, sem as comissões habituais da App Store. No entanto, a Apple argumenta frequentemente que o seu controlo rigoroso sobre a App Store é crucial para garantir a segurança, privacidade e qualidade das aplicações disponíveis para os seus utilizadores.
A abertura ao sideloading levanta, para a empresa, preocupações sobre a potencial proliferação de malware ou aplicações de fraca qualidade. Apesar da decisão, a Apple ainda tem margem para apresentar mais recursos, pelo que a novela judicial pode ainda não ter terminado.
Um cenário global em transformação para as lojas de aplicações
Caso esta decisão no Brasil se mantenha e seja efetivamente implementada, o país juntar-se-á a um grupo restrito de regiões que impõem o sideloading no iPhone. O exemplo mais notório é o da União Europeia, que, através da Lei dos Mercados Digitais, já exige maior abertura dos ecossistemas fechados. Contudo, é importante notar que, mesmo na UE, a Apple mantém um grau considerável de controlo, podendo ainda aprovar ou impedir aplicações e lojas alternativas, e continuar a cobrar comissões, embora sob um novo modelo.
Estes desenvolvimentos, tanto no Brasil como na UE e nos EUA, indicam uma tendência crescente de escrutínio regulatório sobre as grandes empresas de tecnologia e as suas lojas de aplicações.
As autoridades da concorrência em várias partes do mundo estão a questionar o poder exercido por empresas como a Apple sobre a forma como tu acedes e pagas por software nos teus dispositivos. O futuro da distribuição de aplicações móveis parece estar a caminhar para um modelo mais aberto, mas o grau e a forma dessa abertura continuam a ser intensamente debatidos.
Outros artigos interessantes: