O debate sobre como proteger os menores de conteúdo adulto online está a intensificar-se na Europa, e a Itália acaba de dar um passo decisivo nessa direção. A autoridade reguladora AGCOM anunciou que, a partir de 12 de novembro, os utilizadores italianos que tentarem aceder a sites pornográficos serão confrontados com a obrigação de verificação de idade. Com esta medida, a Itália junta-se a países como o Reino Unido e a França na implementação de um sistema rigoroso desenhado para impedir o acesso de menores a conteúdos explícitos.
A nova regra é abrangente e irá afetar cerca de 50 plataformas na sua primeira fase de implementação, incluindo gigantes do setor como o Pornhub, XHamster e OnlyFans. Os sites que não cumprirem a nova legislação arriscam-se a multas que podem atingir os 250.000 euros e podem ser bloqueados em território italiano.

O sistema de dupla anonimidade: a tentativa de proteger a privacidade
O grande desafio de qualquer sistema de verificação de idade é equilibrar a proteção de menores com a privacidade dos adultos. Ninguém quer que os seus hábitos de navegação sejam expostos a terceiros. Para mitigar esta preocupação, o sistema italiano utiliza um mecanismo de “dupla anonimidade”.
O processo de verificação será feito através de entidades terceiras certificadas – como bancos, operadoras de telecomunicações ou outras empresas que já detenham os dados de identidade do utilizador. O fluxo é o seguinte:
- O Utilizador verifica-se junto da entidade terceira, provando que é maior de idade.
- É emitido um código de acesso único para a pessoa, confirmando o seu estatuto de adulto.
- A informação partilhada é mínima: O site pornográfico sabe que o utilizador tem mais de 18 anos, mas não acede à sua identidade. Por sua vez, a entidade verificadora sabe quem é o utilizador, mas não sabe a que site está a tentar aceder.
Apesar desta engenharia de privacidade, o relatório salienta que as preocupações persistem. Os dados, mesmo separados, têm de ser armazenados nalgum ponto, e os especialistas alertam que é apenas uma questão de tempo até que estes possam ser alvo de ataques informáticos ou abusos de dados.
O impacto: menos tráfego, mais escuridão
A eficácia desta medida para proteger os menores tem sido alvo de intenso debate na Europa. O caso do Reino Unido é instrutivo. Após a introdução de requisitos semelhantes, o tráfego em plataformas como o Pornhub caiu 77%. No entanto, este número tem um reverso sombrio.
O tráfego de utilizadores (incluindo o dos menores que querem contornar o bloqueio) é quase sempre redirecionado para sites mais obscuros e menos regulamentados, que não implementam qualquer verificação. Estes sites representam um risco de segurança muito maior, com malware e ausência de moderação. Além disso, os jovens têm acesso a outros métodos para contornar estas restrições, como o uso de VPNs ou da rede Tor.
A nova lei italiana não impede o acesso a conteúdo adulto; apenas torna o processo mais difícil e burocrático, o que pode, ironicamente, levar os utilizadores (incluindo os menores) a procurar ativamente as plataformas menos seguras e mais perigosas da internet. A intenção é nobre, mas a execução levanta sérias questões sobre os seus resultados práticos.
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