E naquela manhã de dezembro, em que o mau tempo, mesmo sem ter sido convidado, se fazia presente, a Menina saíra porta à fora, num desespero que só os que vivem sob o peso da ânsia de um amor ausente conhecem, atrás da vida. Mas não foi preciso ir muito longe. Bastaram alguns poucos passos apressados [o tempo urgia em sua volta!] para que se apercebesse de que, na ausência dEle, a vida que por norma era pungente em seus dias, havia parado. Talvez [e só talvez], a corrida devesse se dar noutra direção. Então, juntou forças e foi! Seguiu viagem rumo aos sorriso felizes e lágrimas de contentamento.
[…]
Eles se amavam. Ainda não sabiam, mas se amavam. Costumam partilhar aquela plataforma todo santo dia, mas tinham as vidas separadas por uma estação: ele ficava por Rio Tinto; ela seguia para Ermesinde. Passavam a vida a observar um ao outro, assim mesmo, ao longe. Eles se completavam. Eram perfeitos um para o outro, mas ainda não sabiam. Nunca lhes foi dada a chance de experimentar este amor.
– “O destino é mesmo tramado!”, costumava repetir a Menina, sempre que o destino revirava a sua vida ao avesso. Ainda assim, preferia ter fé na vida e esperar por dias melhores… Dias melhores e trens: era especialista em esperá-los.
Ela seguia a sua viagem agarrado ao seu exemplar de “O Amor nos Tempos do Cólera”do Gabriel Garcia Marquez. Ele ouvia uma coletânea do Tom Jobim. Ambos só desejavam ter um amor à espera no fim daquelas intermináveis idas e vindas, no comboio que costumava acolhê-los dia após dia. Daqueles amores gigantes, mesmo arrebatadores.
Mas o destino, metido a engraçadinho, ainda lhes reservava muitas partidas [para quando as chegadas?].
Partilhavam todos os dias a mesma estação, o mesmo comboio, os mesmo gostos e interesses, os mesmos sonhos e desejos… Se completavam “que nem feijão com arroz” e, ainda assim, chegariam ao fim de mais aquele dia sozinhos. É que o destino, esse tal senhor arrogante e sarcástico, é um grande sacana: tem a mania de dar nozes a desdentados.
Chovia torrecialmente quando chegaram aos seus destinos. Desembarcaram. Entreolharam-se, mas não se viram. Incógnitos, seguiram as suas vidas… SOZINHOS!
CAssis, a Menina Digital
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