Resultados de um ensaio clínico apresentados no Congresso Anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO) indicam um avanço no tratamento do cancro do pulmão de pequenas células, um tumor agressivo que afeta cerca de cinco mil pessoas em Portugal e para o qual as opções terapêuticas têm sido escassas.
O estudo, designado IMforte, demonstrou um aumento da sobrevida global e da sobrevida livre de progressão em doentes com cancro do pulmão em fase avançada. O avanço resulta da adição do fármaco lurbinectedina, de origem marinha, a um regime de imunoterapia.
O impacto clínico nos doentes com cancro do pulmão
O cancro do pulmão de pequenas células é diagnosticado na maioria dos casos em fase extensa, com um prognóstico desfavorável. António Araújo, diretor do Serviço de Oncologia Médica da ULS de Santo António, refere que “apenas um doente em cada cinco sobrevive mais de dois anos” e que “a evolução terapêutica para esta doença tem sido muito escassa nos últimos 30 anos“.
O especialista considera que os resultados do ensaio IMforte, que avaliou a lurbinectedina como tratamento de manutenção de primeira linha, “mostraram-se muito encorajadores, podendo vir a mudar a prática clínica“. Embora o tratamento já esteja aprovado nos Estados Unidos, a sua disponibilidade na Europa ainda aguarda decisão. A empresa farmacêutica PharmaMar utilizou os dados do estudo para submeter um Pedido de Autorização de Comercialização à Agência Europeia do Medicamento (EMA).
A exploração do oceano para fins médicos
A lurbinectedina é um exemplo da inovação médica derivada de compostos marinhos. A sua criadora, a PharmaMar, especializa-se na exploração do oceano como fonte de novos medicamentos para doenças com necessidades médicas não satisfeitas. A notícia surge na mesma semana em que se assinala o Dia Mundial dos Oceanos, a 8 de junho.
O processo da empresa envolve expedições para encontrar compostos com potencial antitumoral. Uma vez identificado um organismo, o composto é reproduzido quimicamente em laboratório para ser submetido a estudos pré-clínicos e, posteriormente, a ensaios clínicos que avaliam a sua segurança e eficácia antes de uma eventual autorização para comercialização. A PharmaMar afirma possuir a maior coleção de organismos marinhos do mundo, com cerca de 500 mil espécies.
Em síntese, os dados apresentados no congresso da ASCO abrem uma nova perspetiva para os doentes com cancro do pulmão de pequenas células. O tratamento, inspirado no oceano, aguarda agora a avaliação das entidades reguladoras europeias para poder ser disponibilizado aos doentes na Europa.
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